Após retornar ao Brasil em 1952, regravou um LP em 1956 com oito de seus antigos sucessos, encerrando uma carreira que contou com mais de 80 discos. Ela também voltou ao cinema em 1989, no filme Dias Melhores Virão, a convite da atriz Marília Pera.[4]
Biografia
Início da carreira
Nascida no Rio de Janeiro, Aurora Miranda era a irmã mais famosa de Carmen Miranda.[5] Assim como suas irmãs — além de Carmen, havia também Cecilia, que não seguiu carreira como cantora — ela gostava, desde pequena, de cantar em casa, alegrando os frequentadores da pensão que sua mãe, a imigrante portuguesa Maria Emília, dirigia.[6]
A pedido do compositor e violonista Josué de Barros, que lançou Carmen Miranda, Aurora cantou, antes de completar 18 anos, em uma apresentação na Rádio Mayrink Veiga. O sucesso a levou a se apresentar no Programa Casé, na Rádio Philips. Em 1933, gravou seu primeiro disco pela Odeon, em dupla com Francisco Alves, cantando a marcha "Cai, cai, balão" (de Assis Valente) e o samba "Toque de amor" (de Floriano Ribeiro de Pinho). O disco fez muito sucesso; assim, no mês seguinte, novamente com Francisco Alves, lançou pela mesma gravadora o fox-trot "Você só... mente" (de Noel Rosa e Hélio Rosa), que se transformou também em grande êxito.[7]
Sempre pela Odeon, gravou os sambas "Fala R.S.C." (de José Evangelista) e "Alguém me ama" (de Benedito Lacerda), além da marcha "Se a lua contasse" (de Custódio Mesquita). Em 1934, começou a cantar em dupla com Carmen Miranda, apresentando-se ao lado de João Petra de Barros, Jorge Murad e Custódio Mesquita na Rádio Record e no Teatro Santana, em São Paulo.[8] Nesse mesmo ano, fez sucesso com o samba "Sem você" (de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa) e o samba-canção "Moreno cor de bronze" (de Custódio Mesquita). Seu maior êxito, no entanto, foi a marcha "Cidade Maravilhosa", em dueto com o autor André Filho. A canção obteve o segundo lugar no concurso oficial de Carnaval de 1935 e, em 1960, se tornou o hino oficial do antigo Estado da Guanabara.[9][10]
Em 1937, Aurora excursionou com Carmen para a Argentina e o Uruguai, apresentando-se com o Bando da Lua. Em 1940, em seu último disco pela Victor, lançou o samba "Paulo, Paulo" (Gadé), em dupla com Grande Otelo (cujo nome não figura na etiqueta), além do maxixe "Petisco do baile" (de Ciro de Sousa e Garcez).
Em 1956, participou do show "Mr. Samba", de Carlos Machado, em homenagem a Ary Barroso. No mesmo ano, regravou em LP pela Sinter oito antigos sucessos seus e lançou dois discos pela Odeon, encerrando sua marcante carreira, na qual deixou gravados 81 discos e 161 músicas.[11]
Em 1994, regravou com Sílvio Caldas o samba "Quando eu penso na Bahia" (de Ary Barroso e Luís Peixoto), um dueto lançado no CD "Songbook Ary Barroso" lançado pela Lumiar.[12] Em 1995, apresentou-se em um espetáculo em homenagem a Carmen, promovido pelo Lincoln Center, em Nova Iorque.[13] Na opinião de muitos, Aurora teve a melhor voz entre as irmãs Miranda. Contudo, o destino a fez iniciar no rádio à sombra do sucesso da irmã mais velha, o que acabou se tornando um entrave para sua carreira, já que a jovem cantora frequentemente se viu alvo de inevitáveis comparações. Foi uma das cantoras que mais discos gravou na década de 1930, apenas atrás de sua irmã Carmen Miranda.
Carreira no cinema
Estreou no cinema em 1935, trabalhando no filme Alô, Alô, Brasil, dirigido por Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, no qual cantou "Cidade maravilhosa" e "Ladrãozinho". No filme Alô, Alô, Carnaval, de 1936, dirigido por Ademar Gonzaga, cantou em dupla com Carmen Miranda, acompanhada pela Orquestra de Simon Bountman, a marcha "Cantores de rádio" (de João de Barro, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro) e, sozinha, com acompanhamento do regional de Benedito Lacerda, o samba "Molha o pano" (Getúlio Marinho e A. Vasconcelos).
Aurora foi convidada para o desenho animado The Three Caballeros, de 1944, onde interpretou a folclórica baiana "Iaiá", atuando ao lado do Pato Donald e seus amigos, Zé Carioca e Panchito. Juntos, eles conhecem a América em um tapete voador. O desenho é considerado um dos ícones da evolução dos efeitos especiais no cinema. Essa produção marca a primeira aparição do personagem Zé Carioca e traz Aurora cantando "Os Quindins de Iaiá", de Ary Barroso. Para alguns estudiosos, havia, na época, um pacto entre o governo americano e Hollywood para a produção de filmes da Política da Boa Vizinhança, uma estratégia visando o avanço da influência dos EUA na América Latina durante a presidência de Franklin Roosevelt (1933-1945).[17][18][19]
Sua última aparição em um filme americano foi em Tell It to a Star, de 1945, dirigido por Frank McDonald. Décadas depois, fez uma participação especial no filme Dias Melhores Virão, de Cacá Diegues, onde cantou "Você só... mente".[20]
Vida pessoal
Em 1940, aos 25 anos, Aurora Miranda casou-se com seu noivo, o comerciante Gabriel Richaid, passando a assinar Aurora Miranda da Cunha Richaid. Como presente de casamento, sua irmã Carmen lhe deu um vestido de noiva bordado a ouro, feito nos EUA, um gesto que Aurora guardaria na memória por toda a vida. O casal teve dois filhos: Maria Paula Miranda da Cunha Richaid e Gabriel Alexandre Richaid Júnior. Na década de 1940, o casal decidiu morar nos Estados Unidos, perto da residência de Carmen Miranda. Aurora e Gabriel voltaram a viver no Brasil em 1952. Em 1990, Aurora ficou viúva e optou por não se casar novamente.[21][22]
Morte
Aurora Miranda faleceu às 15 horas do dia 22 de dezembro de 2005, no bairro carioca do Leblon. Sua filha, Maria Paula Richaid, informou que a morte foi tranquila, decorrente dos problemas de saúde naturais da idade, aos 90 anos. Segundo Maria Paula, nos últimos três anos, Aurora foi perdendo progressivamente a vitalidade e a memória, e, após contrair pneumonia há um ano e meio, "foi se apagando".
Aurora foi sepultada no Cemitério São João Batista, próximo ao túmulo de sua irmã, Carmen Miranda.[23]
Legado
"Aurora Miranda criou seu próprio nicho", escreveu o The Guardian, primeiro como uma cantora pioneira e, mais tarde, como a primeira artista a interagir com desenhos animados em uma produção da Walt Disney. Ela apareceu no filme The Three Caballeros, uma mistura de cinema e animação, onde estrelou ao lado do Pato Donald. No entanto, talvez seu maior legado tenha sido a primeira gravação do hino não oficial do Rio de Janeiro, "Cidade Maravilhosa", em 1934. Tom Philips, em seu obituário para o jornal inglês, afirmou que Aurora Miranda "personificou o espírito do Rio".[24]
↑Tom Philips (5 de março de 2006). «Obituary: Aurora Miranda». The Guardian. Consultado em 28 de outubro de 2017
Bibliografia
ALBIN, Ricardo Cravo. MPB: A História de um século. Editora: Funarte. Rio de Janeiro, 1997.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da Música Popular Brasileira. Editora: MEC/FUNARTE. Rio de Janeiro, 1978.
EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho.Editora: Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
MARIZ, Vasco. A canção brasileira. Editora: Francisco Alves. Rio de Janeiro, 2000.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 1. Editora 34. São Paulo, 1997.
VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira. Vol. 2. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.