João Gaspar Simões nasceu a 25 de fevereiro de 1903, em São Julião, Figueira da Foz, distrito de Coimbra.
Filho de João Simões, grande comerciante da Figueira da Foz, e de sua mulher Constança Neto Gaspar, doméstica, foi baptizado a 18 de julho de 1903.[1] Fez a instrução básica na sua terra natal, a Figueira da Foz e a partir dos 11 anos frequentou como interno o Colégio Lyceu Figueirense (1914), terminando o ensino liceal em Coimbra, no Liceu José Falcão.
[carece de fontes?] Nunca exerceu profissão na área jurídica, mas tinha o sonho de ser diplomata.[2]
Fez tirocínio para Conservador do Museu Machado de Castro em Coimbra e nessa qualidade transferiu para esse Museu a valiosa coleção de antiguidades chinesas doada pelo poeta Camilo Pessanha e que se encontrava em depósito no Museu das Janelas Verdes, em Lisboa. Foi Presidente da Associação Académica de Coimbra em 1930-31. A partir de 1935 foi revisor da Imprensa Nacional passando para a Biblioteca desta instituição em 1940. Entre 1942 e 1945 dirigiu o programa de traduções da casa editora Portugália, em Lisboa.
Uma das facetas mais importantes da sua obra de crítico e de editor foi a de ter sido o primeiro biógrafo e também o primeiro editor[2] (com Luís de Montalvor) de Fernando Pessoa, de quem tinha sido amigo e correspondente. No domínio da literatura estrangeira divulgou e traduziu vários autores russos e anglófonos, entre eles Dostoiévski, Liev Tolstói, George Eliot[2], Jane Austen[2] e Elizabeth Gaskell[2] (novelista também celebrizada por ter sido a biógrafa de Charlotte Brontë e cuja obra foi publicada por sua iniciativa na Portugália), combatendo o "francesismo" então reinante e contribuindo para a ampliação dos horizontes literários e estéticos do mundo lusófono e a europeização da então muito provinciana cultura portuguesa. A partir de 1946 finalizou a sua carreira de romancista para iniciar a sua produção dramatúrgica. A sua obra crítica é respeitada pelo seu vasto espírito enciclopédico e pela pertinência dos seus julgamentos, ainda que por vezes fosse julgada demasiado dependente do historicismo e biografismo. Alguma da sua crítica destinava-se a divulgar e valorizar autores estrangeiros que também traduzia, ou fazia traduzir e publicava nas coleções que dirigia. Ao longo de décadas foi incansável a sua atividade de recensão nas páginas literárias de diversos jornais, entre eles o Diário de Lisboa[2], o Diário de Notícias, o Diário Popular, O Primeiro de Janeiro e o Mundo Literário. Manteve sempre fortes ligações ao mundo da imprensa, que lhe atribuiu 3 dos 4 prémios que o distinguiram em Portugal, e foi o último diretor do jornal O Século.
Proferiu numerosas conferências sobre literatura em Portugal e no Brasil e em várias cidades europeias, tendo participado como orador convidado no First International Symposium on Fernando Pessoa realizado em 1977 na Brown University, Providence, USA, e no Second International Symposium on Fernando Pessoa em 1983, na Vanderbilt University, Nashville, USA.
De 1954 a 1968 viveu com a escritora Isabel da Nóbrega,[8] que depois o trocaria pelo ainda desconhecido José Saramago. Em 1975, Gaspar Simões publicou As Mãos e as Luvas, amargo e irónico roman à clef sobre a sua vida sentimental, e em que Isabel da Nóbrega surge sob o nome de Tininha (ou Albertina).
João Gaspar Simões morreu a 6 de Janeiro de 1987, em Lisboa.
Em homenagem à importância da sua obra foi o seu nome atribuído a diversas ruas em Portugal: na Figueira da Foz onde nasceu e em Foros de Amora (Seixal), na Aldeia de Juzo (Cascais), em Leça da Palmeira (Matosinhos) e em Albufeira (Algarve); e no Brasil, no Bairro Diadema, distrito de Jabaquara, cidade de São Paulo (SP).
Obra
Romance
Elói ou Romance numa Cabeça, 1932 - com ele obteve o "Prémio da Imprensa" nesse ano.
Uma História de Província: I parte — Amores Infelizes, 1934; II parte — Vida Conjugal, 1936; 2ª ed. num só vol., 1943; 3ª ed. separada.
Pântano, 1940; 2ª ed. 1946.
Amigos Sinceros, 1941; 2ª ed. 1962.
A Unha Quebrada (novela), 1941.
Eduarda (novela), 194?.
O Marido Fiel, 1942.
Internato, 1946; 2ª ed. revista 1969.
As Mãos e as Luvas (Retrato em Corpo Inteiro), 1975.
Teatro
O Vestido de Noiva, 1952.
Teatro (Jantar de Família, Tem a Palavra o Diabo, Uma Mulher sem Passado), 1953.
Pedido de Casamento (inédita).
Marcha Nupcial, 1964.
Biografia e história literária
Igualmente premiada, com o Prémio "O Primeiro de Janeiro", foi a sua biografia Eça de Queirós, o Homem e o Artista, 1945, reeditada com o título Vida e Obra de Eça de Queirós, 1973 e segs.
Vida e Obra de Fernando Pessoa — História duma Geração, Vol. I: Infância e adolescência; Vol. II: Maturidade e morte, 1950.
História da Poesia Portuguesa — Das Origens aos Nossos Dias, (acompanhada de uma antologia), Vol. I, 1955; Vol. II, 1956; Vol. III, 1959.
História do Movimento da «Presença» (seguida de uma antologia), 1958.
Eça de Queirós — A Obra e o Homem, 1961.
Antero de Quental — Vida, Pensamento, Obra, 1962.
Fernando Pessoa — Escorço interpretativo da sua vida e obra, 1962, reeditado como Fernando Pessoa, Breve Escorço da sua Vida e Obra, 1983 e segs.
Júlio Dinis — A Obra e o Homem, 1963?.
Itinerário Histórico da Poesia Portuguesa de 1189 a 1964, 1964.
50 Anos de Poesia Portuguesa — do Simbolismo ao Surrealismo, 1967.
História do Romance Português, Vol. I: 1969; Vol. II: 1972; Vol. III: 1978.
Camilo Pessanha — A Obra e o Homem, 1967.
A Geração de 70 — Alguns Tópicos para a sua História, s/d [1971?].
Retratos de Poetas que Conheci, 1974.
Perspectiva Histórica da Poesia Portuguesa — Dos Simbolistas aos Novíssimos, 1976.
José Régio e a História do Movimento da «Presença», 1977.
Estudos sobre Fernando Pessoa no Brasil (textos de JGS et al.), São Paulo, 1986.
Ensaio e crítica literária
Temas foi o seu primeiro livro de ensaios, publicado na "Presença" em 1929, e que inclui o primeiro estudo literário dedicado a Fernando Pessoa que era então quase desconhecido.
O Mistério da Poesia — Ensaios de Interpretação da Génese Poética, 1931.
Tendências do Romance Contemporâneo, 1933.
Novos Temas — Ensaios de Literatura e Estética, 1938.
António Nobre, Precursor da Poesia Moderna (conferência, com uma breve antologia), 1939.
Crítica iniciada em 1942: Crítica I – A Prosa e o Romance Contemporâneos, 1942; Crítica II – vol. 1: Poetas Contemporâneos 1938 – 1961 [1961]; vol. 2: Poetas Contemporâneos 1946 – 1961 [1962?]; Crítica III – Romancistas Contemporâneos 1942 – 1961, s/d [1969?], obra pela qual recebeu o Prémio "Diário de Notícias" em 1970; Crítica IV – Contistas, Novelistas e Outros Prosadores Contemporâneos 1942 – 1979, 1981; Crítica V – Críticos e Ensaístas Contemporâneos 1942 – 1979, 1983; Crítica VI – O Teatro Contemporâneo 1942 – 1982, 1985.
Caderno dum Romancista, 1942.
Ensaio sobre a Criação no Romance, 1944.
A Arte de Escrever Romances (conferência lida no salão do Teatro de S. Luiz na "Tarde Literária" de 8 de fevereiro de 1947, 1947.
Liberdade do Espírito, 1948.
Natureza e Função da Literatura, 1948.
Garrett — Quatro Aspectos da sua Personalidade (conferências integradas na homenagem do Ateneu Comercial do Porto ao Poeta natural daquela Cidade), 1954.
Quatro Estudos — Júlio Dinis. Balzac e a Arte do Romance. Somerset Maugham, dramaturgo. Jorge de Lima e a sua 'Cosmogonia' ou 'Invenção de Orfeu', Rio de Janeiro, 1961.
Interpretações Literárias — Balzac e a Arte do Romance; Leão Tolstoi, Romancista; Jorge de Lima e a 'Cosmogonia' ou 'Invenção de Orfeu'; Sentido Criador em Júlio Dinis, Afonso Duarte, Poeta Antigo e Moderno; James Joyce e a Sua Obra, 1961.
Literatura, Literatura, Literatura... — De Sá de Miranda ao Concretismo Brasileiro, 1964.
Almeida Garrett, Vida, Pensamento, Obra, 1964.
Novos Temas, Velhos Temas — Ensaios de Literatura e Estética Literária, 1967.
Fernando Pessoa — Heteropisicografia, 1973.
Fernando Pessoa na Perspectiva da Presença, 1978.
Edição e estudos introdutórios
Obras Completas de Fernando Pessoa, 4 vols. (com Luís de Montalvor, para a ed. Ática), 1942-1945.
Perspectiva da Literatura Portuguesa do século XIX (Dir., pref. e notas bibliográficas de JGS), Vol. I, 1947; Vol II, 1948.
Garrett — Poetas de Ontem e de Hoje (Biografia, exame crítico e antologia por JGS), 1954.
Eça de Queirós — Trechos escolhidos (Compil. e apres. por JGS), Rio de Janeiro 1957.
Teatro de Oscar Wilde (Pref. de JGS e trad. de Januário Leite), sd.
O Crocodilo de Dostoiévski (Pref. de JGS e trad. de Isabel da Nóbrega), 1966.
Tradução (elenco parcial)
Jean Cocteau, Os Meninos Diabólicos (Les enfants terribles), 1939.
Dostoiévski, Está Morta!: Novela Fantástica, 1940.
Charlotte Brontë, A Paixão de Jane Eyre (em colaboração com Mécia), 1941.
D. H. Lawrence, Filhos e Amantes, 1943.
Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão (em colaboração com Charles David Ley).
Contos Ingleses de Defoe a Huxley.
Katherine Mansfield, O Garden-Party.
Henry James, Calafrio.
Prosper Mérimée, Carmen (em colaboração com Mécia).
Meredith, O caso do General Ople.
Georges Bernanos, Diário de um Pároco de Aldeia, 1955.
William Beckford, Diário de William Beckford em Portugal e Espanha — The Journal in Portugal and Spain 1787-1788, 1957.
Leão Tolstói, Guerra e Paz (Trad. integral, notas e um est. biográfico e crítico por JGS), 1957.
Georges Bernanos, A Alegria, 1959.
Tchekov, David Magarshack, 1960.
Thomas Mann, O Cão e o Dono, 1962.
Suetónio, Os Doze Césares, 1963.
Gogol, O Inspector, 1963.
Ivan Turgenev, Pais e Filhos, 1963.
Daniel Defoe, Diário da Peste de Londres, 1964.
Dostoiévski, Crime e castigo (Prestuplenie i nakavanie), 1964.
Dostoiévski, Diário de Raskolnikov, 1964.
Leão Tolstói, A Manhã de um Senhor, 1966.
Leão Tolstói, Ana Karenina, 1971.
Leão Tolstói, A Felicidade Conjugal. Sonata a Kreutzer, 1978.
Principais temas
De acordo com o subtítulo de uma das suas obras: "Romance numa cabeça", para João Gaspar Simões "não há romance onde não houver imaginação psicológica"; ...'À introspeção, ao psicologismo, à sinceridade, à revelação do eu profundo, como dizia, nessa altura, o filósofo em voga, Bergson, cabiam o renovo de um género'... (Retratos, 67).
Referências
↑Assento de baptismo nº 83/1903, cota 404, São Julião da Figueira da Foz.