Blond Ambition World Tour
Blond Ambition World Tour (ou Blond Ambition World Tour 90) foi a terceira turnê da cantora estadunidense Madonna, feita em suporte ao seu quarto álbum de estúdio Like a Prayer e a trilha sonora do filme Dick Tracy, I'm Breathless. A turnê foi oficialmente anunciada como Blond Ambition World Tour em 16 de novembro de 1989 pela Sire Records, percorrendo arenas e estádios pela Ásia, América do Norte e Europa ao longo de 57 concertos, começando em 13 de abril de 1990 no Chiba Marine Stadium em Chiba, Tóquio, e encerrando-se em 5 de agosto do mesmo ano no Stade Charles-Erhmann em Nice, França. A banda belga Technotronic serviu como ato de abertura em todos os shows. A digressão seria originalmente intitulada Like a Prayer World Tour e patrocinada pela Pepsi, com quem Madonna havia assinado um contrato milionário para a divulgação da faixa homônima e de um dos produtos da empresa num comercial. Entretanto, após o lançamento de seu polêmico vídeo musical, que ocasionou protestos religiosos e tentativas de boicote à companhia e suas subsidiárias, o acordo foi cancelado. A Blond Ambition World Tour foi dirigida pela própria cantora e contou com a direção de arte de seu irmão, Christopher Ciccone, figurinos concebidos por Jean-Paul Gaultier e coreografia realizada por Vincent Paterson. O palco custou cerca de US$ 2 milhões para ser construído, além de mais de cem pessoas para montá-lo e 18 caminhões para transportar o equipamento; com dimensões de 26 metros e 16,2 centímetros, tinha como peça central uma grande plataforma hidráulica, a partir da qual Madonna surgia. Ensaios ocorreram nos Walt Disney Studios em Burbank, Califórnia. Com o objetivo de "quebrar tabus inúteis", os espetáculos foram divididos em cinco segmentos, inspirados por moda e arquitetura dos anos 1920, 1930 e 1940: Metropolis, inspirado pelo filme homônimo de 1927; Religious, tocando em temas religiosos; Dick Tracy, com características do longa-metragem de mesmo nome e de cabarés; Art Deco, inspirado pelos primeiros filmes de Hollywood e trabalhos de Tamara de Lempicka; e o bis, incluindo duas músicas. A turnê foi recebida com análises positivas de críticos de música e entretenimento, que destacaram a sua natureza teatral e a presença de palco da cantora, embora alguns tenham ficado divididos em relação à sua produção exagerada e o uso do playback. Recebeu o prêmio de "Produção Mais Criativa de Cenário" no Pollstar Awards em 1990. Foi bem sucedida comercialmente, vendendo 800 mil ingressos e lucrando US$ 62,7 milhões, o que fez de Madonna a segunda artista de maior sucesso em turnês à época, atrás de Michael Jackson. A Blond Ambition World Tour foi marcada por controvérsias acerca de seu teor sexual e católico, em especial na Itália, onde organizações religiosas protestaram e condenaram tanto o show quanto a cantora e o Papa João Paulo II clamou por boicote. Os protestos foram bem sucedidos, com uma das três apresentações sendo cancelada. Em Toronto, a polícia ameaçou prender a cantora caso não ocorressem mudanças na apresentação de "Like a Virgin", onde Madonna simulava masturbação. Diversos concertos foram gravados e transmitidos, como a última apresentação da turnê, realizada em Nice, exibida pela HBO ao vivo e posteriormente lançada oficialmente como Blond Ambition World Tour Live, rendendo à cantora seu primeiro Grammy Award. Um documentário intitulado Madonna: Truth or Dare, foi lançado em 1991 mostrando os bastidores da turnê. A Blond Ambition World Tour foi observada por uma série de críticos e estudiosos como um marco nos espetáculos pop por sua teatralidade, grandeza, moda e apresentações, sendo frequentemente creditada como a responsável por mudar a maneira em que shows eram realizados e notada como inspiração em trabalhos de artistas subsequentes. AntecedentesEm janeiro de 1989, a Pepsi-Cola fechou um contrato de US$ 5 milhões com Madonna para que a mesma estrelasse em um comercial televisivo promovendo tanto a empresa quanto seu próximo single "Like a Prayer".[1] O acordo também abrangeu a Pepsi como patrocinadora oficial da próxima turnê mundial da cantora, inicialmente anunciada como "Like a Prayer World Tour".[2][3] Madonna tinha a intenção de incluir "Like a Prayer" na propaganda antes do lançamento oficial da canção, uma abordagem inovadora na indústria da música. A Pepsi também se beneficiou ao associar seu produto a Madonna, gerando assim promoção mútua.[1] O comercial, intitulado "Make a Wish", estreou durante a transmissão global da 31.ª edição anual dos Grammy Awards em 12 de fevereiro de 1989, alcançando uma audiência de cerca de 250 milhões de pessoas.[4][5][6] No dia seguinte, o videoclipe de "Like a Prayer" estreou no canal MTV.[7] Grupos religiosos, incluindo o Vaticano, protestaram contra Madonna pelo uso de símbolos cristãos no vídeo, como cruzes queimadas e por beijar um santo negro, acusando-a de blasfêmia. Isso levou a um boicote as subsidiárias da Pepsi e da PepsiCo.[8][9] Como resposta, a empresa retirou o comercial do ar e cancelou o contrato de patrocínio com a cantora.[10][11] A Sire Records anunciou oficialmente a Blond Ambition World Tour em 16 de novembro de 1989, e a apresentação de Madonna de "Express Yourself" no MTV Video Music Awards de 1989 foi considerada uma "prévia" do que estava por vir.[12] A cantora caracterizou a excursão como "muito mais teatral do que qualquer coisa que eu já fiz [...] Eu sei que não sou a melhor cantora e sei que não sou a melhor dançarina. Entretanto, posso irritar as pessoas e ser tão provocativa quanto eu quiser. O objetivo da turnê é acabar com tabus inúteis".[13][14] O repertório da digressão foi composto principalmente pelas canções do álbum Like a Prayer, e da trilha sonora I'm Breathless, do filme Dick Tracy.[15] DesenvolvimentoConcepção e ensaiosConforme descrito por J. Randy Taraborrelli, Madonna exercia um "domínio absoluto sobre praticamente todos os elementos da turnê".[16] Christopher Ciccone, irmão da cantora, foi selecionado como diretor artístico da excursão. Em sua autobiografia, Life with My Sister Madonna, declarou que Madonna o convidou para vesti-lá, mas também lhe pediu para dirigir e criar o cenário do show.[17] A equipe também consistia em sete dançarinos, duas vocalistas de apoio e oito músicos.[18] Vincent Paterson, a quem a cantora conheceu durante a gravação do comercial da Pepsi, foi escolhido como coreógrafo. As audições para dançarinos ocorreram em Nova Iorque e Los Angeles, onde a coreógrafa Karole Armitage procurava "dançarinos ousados", como anunciado na revista Daily Variety, excluindo "fracotes e aspirantes".[19] Luis Camacho e Jose Gutierez Xtravaganza que trabalharam com Madonna no vídeo de "Vogue", foram os primeiros escolhidos, sendo convidados para uma audição informal na boate Tracks após enviarem uma videotape.[20] Após o seu teste, Carlton Wilborn foi também escolhido para se encontrar com a artista numa boate. Descrevendo a atmosfera dos ensaios como semelhante a um "campo de treinamento", comentando que ela estava "procurando por pessoas muito confiantes – os melhores dos melhores – então eu estava bastante ciente de como estava me apresentando. Quando eu fui selecionado, eu sabia que era uma grande oportunidade".[21] Madonna escolheu outros dançarinos, como Oliver Crumes, Kevin Stea, Gabriel Trupin e Salim Gauwloos,[20] tendo a intenção de integrar moda e elementos da Broadway, ao invés de focar apenas na música, como observado por Paterson.[16][22] Para permitir maiores movimentos enquanto dançasse e cantasse, Madonna usou um microfone headset de radiofrequência e sem fio, anexado aos ouvidos ou ao topo da cabeça e a cápsula do microfone presa num cabo que estendia à altura da boca. Por causa de seu uso proeminente, o design do microfone ficou conhecido como o "microfone da Madonna".[23][24] Outros profissionais contratados incluíram John Draper como gerente da turnê, Mike Grizel como road manager, e Chris Lamb da GLS Productions como gerente de produção.[25] Além disso, os ensaios da excursão ocorreram nos estúdios da Walt Disney em Burbank, na Califórnia.[18] Figurinos e palco
– O designer Jean Paul Gaultier falando sobre colaboração com cantora em entrevista para o The New York Times.[26] A cantora entrou em contato com o estilista francês Jean Paul Gaultier para criar os figurinos da turnê, cativada por sua "irreverência e humor", e enviou-lhe uma carta escrita à mão solicitando seus designs.[27][28] Gaultier aceitou com alegria, afirmando que admirava Madonna e seu estilo ousado.[28] Ambos levaram três meses para finalizar os detalhes dos trajes, encontrando-se no Carlyle Hotel em Nova Iorque, e em locais adicionais como o restaurante Bofinger em Paris, o Balajo Club, a boate Zoopsie e o Théâtre Equestre Zingaro.[28] Gaultier descreveu esse período como extremamente estressante, relatando ter consumido "350 aspirinas e ter elaborado 1,500 esboços" antes de a cantora aprovar seus projetos.[29] Niki Haris, cantora de apoio e dançarina da turnê, relembrou que Madonna sempre priorizava as roupas e os sapatos.[16] Foram produzidos dois corpetes com copas cônicas, um em cor de pêssego e outro em dourado sólido.[30] Gaultier teve a ideia quando criança, ao ver um espartilho em uma exposição com sua avó, apaixonando-se pela cor da pele, o cetim salmão e a renda, e "o sutiã cônico dourado foi uma extensão dessa inspiração".[26] Outros figurinos criados incluíam um terno com listras, um espartilho listrado nas cores verde e branco no estilo vaudeville, um mini-vestido preto decorado com a ave de pelúcia marabu, além de uma batina preta com crucifixo neon.[31][32] Cada peça foi costurada duas vezes com fios elásticos para evitar incidentes.[17] Nos concertos realizados na Ásia e América do Norte, a cantora usou um aplique de rabo de cavalo sintético, substituído por um penteado encaracolado na etapa europeia.[33] A construção do palco foi de aproximadamente US$ 2 milhões.[27] Possuía dimensões de 26 metros e 16,2 centímetros e necessitava de mais de cem pessoas para montá-lo, além de 18 caminhões para transportá-lo.[22] Também apresentava uma plataforma hidráulica gigante, na qual Madonna subia no início de cada apresentação.[22] O espetáculo era dividido em diferentes blocos, cada um com a própria temática e definição específica.[27] A cantora e seu irmão se inspiraram na moda e arquitetura das décadas de 1920, 1930 e 1940 para criar os designs de cada ato.[27] O primeiro, inspirado no filme Metropolis (1927) e no videoclipe de "Express Yourself", apresentava funis com fumaça, tubulações de aço, cabos suspensos e uma escada central.[34] Seguidamente, as cortinas caem e a cantora é vista em uma cama escarlate.[27] No terceiro ato, de temática religiosa, destacavam-se um grande arco de colunas coríntias e velas votivas.[27] O quarto e último segmento, tinha elementos cênicos inspirados nos arranha-céus de estilo Art déco, com uma grande escada semicircular e cenários inspirados nas obras de Tamara de Lempicka.[27] Além de conter itens, como um piano de cauda e uma enorme cruz iluminada com luzes roxas e laranja.[27] A banda belga Technotronic foi selecionada como ato de abertura da tunê.[35] Sinopse do concertoO concerto é dividido em cinco segmentos distintos: Metropolis, Religious, Dick Tracy, Art Deco e um bis.[3] Inicia-se com "Express Yourself", contendo elementos de "Everybody" durante sua introdução.[36] Sete dançarinos se apresentam no palco antes de Madonna aparecer.[27] A mesma utiliza um terno listrado e um dos espartilhos desenhado por Gaultier,[37] e é acompanhada pelas vocalistas de apoio, Niki Haris e Donna De Lory, enquanto realiza uma coreografia com simulações sexuais.[38] "Open Your Heart" é apresentado logo após, com Madonna coreografando o número em uma cadeira ao lado do dançarino Oliver Crumes.[39] Em "Causing a Commotion", a cantora usa uma jaqueta colorida de ciclismo e entretém-se com Haris e De Lory.[31] O segmento é finalizado com uma apresentação coreografada da canção "Where's the Party".[31] A segunda seção começa com "Like a Virgin", sendo executada com um arranjo orquestral com influências árabes, onde Madonna se deita sobre uma cama escarlate e é acariciada por dois dançarinos.[27] Seguidamente, a cantora se debate freneticamente sobre a peça de mobília, fingindo também se masturbar.[27] Tal é seguida por uma interpretação de "Like a Prayer", onde Madonna usa uma túnica preta e se ajoelha na frente do palco.[40] Seguia-se então um medley das canções "Live to Tell" e "Oh Father", ambos cantados em um genuflexório, com o dançarino Carlton Wilborn ao fundo vestido como um padre.[41][32] O ato termina com uma apresentação energética de "Papa Don't Preach".[39] Para o terceiro segmento, Madonna usa um espartilho listrado, e deita-se sobre um piano de cauda e interpreta "Sooner or Later". Esta é seguida por "Hanky Panky", ao lado de Haris e De Lory. Ao final da apresentação, a cantora se dirige ao público, dizendo: "Todo mundo aqui conhece os prazeres de umas boas palmadas, não é? Quando machuco as pessoas, me sinto melhor, entendem o que digo?".[42][43] O bloco se encerra com um número coreografado de "Now I'm Following You" junto ao bailarino Salim "Slam" Gauwloos, vestido como o personagem Dick Tracy.[27] O penúltimo ato é iniciado com Madonna cantando "Material Girl" e caracterizada como uma típica dona de casa dos subúrbios estadunidenses, utilizando um roupão bordado e bobes no cabelo.[44] Logo depois, é executado "Cherish" onde a intérprete começa a tocar harpa ao lado de três dançarinos vestidos como tritões.[31] A seção se encerra com "Into the Groove" e "Vogue", onde a cantora usa um sutiã esportivo preto com shorts de laicra.[45][46] Madonna então apresenta um bis de duas canções, "Holiday", usando um figurino de arlequim;[31] e na música de encerramento, "Keep It Together", que inicia-se com elementos de "Family Affair" da banda Sly & the Family Stone.[47] Os dançarinos aparecem vestidos com trajes semelhantes aos do filme A Clockwork Orange (1970) em um cenário composto por cadeiras.[31] Ao final da apresentação, a cantora fica sozinha no palco e repete constantemente as palavras: "Mantenham as pessoas unidas para sempre".[47] Análise da críticaA turnê obteve análises positivas de críticos musicais. O autor de Madonna: An Intimate Biography, J. Randy Taraborrelli escreveu que "números de dança ousadamente sensuais e momentos de imaginária religiosa misturavam-se para compor uma fantasia em ritmo acelerado, cuidadosamente coreografada".[1] A mesma nota foi dada por Barry Waters, da Rolling Stone.[48] Em publicação ao Los Angeles Times, Robert Hilburn afirmou: "A turnê Blond Ambition de Madonna apresenta um conceito sofisticado, coreografia semelhante ao da Broadway e estrutura suficiente para impressionar um público curioso".[49] Ron Miller, do Pittsburgh Press, descreveu o espetáculo como "grandioso, extravagante, repleto de números coreografados e com constantes trocas de figurinos".[50] David Hinckley do mesmo veículo comparou-o a uma "produção extravagante e energética da Broadway".[51] Em resenha ao show realizado no dia 7 de maio de 1990, no Reunion Arena em Dallas, Tom Maurstad opinou que "não foi bem um concerto, mas sim uma extravagância musical"; não obstante, criticou a cantora por confundir Dallas com Houston ao se dirigir ao público.[52] Peter Buckley, autor de The Rough Guide to Rock, elogiou a produção, ressaltando a criatividade das apresentações.[53] Montgomery Brower e Todd Gold, ambos críticos da People, descreveram a digressão como "algo incrível de 105 minutos em virtude de suas polêmicas.[54] Scott Anderson, da revista Gay Times, opinou que, "apesar da vivacidade do palco e da coreografia elaborada, o concerto ainda mantinha uma sensação de crueza, ludicidade e espontaneidade".[55] Richard Harrington, escrevendo para o jornal The Washington Post, disse que a "[Blond Ambition] foi uma versão ao vivo dos videoclipes que consolidaram Madonna".[56] Frank DeCaro, do Newsday, comparou o concerto a uma noite energética nas discotecas Roxy NYC, Pyramid Club e Studio 54.[57] John LeLand, da mesma publicação, opinou "embora muitos esperassem que o evento fosse algo ultrajante, a maioria das pessoas no Nassau Coliseum naquela noite não ficou escandalizada. Em vez disso, pareciam estar mais entusiasmadas do que aborrecidas".[58] Enquanto, a jornalista Sujata Massey destacou as apresentações como "cativantes", os figurinos e a "envolvente" interação de Madonna.[59] Outra avaliação elogiosa veio do Chicago Tribune, com o revisor Greg Kot considerando que "Madonna foi o destaque da noite, sendo não apenas uma artista, mas também uma dançarina, filósofa e comediante, tornando a noite memorável com sua presença multifacetada".[60] Em conclusão, Kot afirmou que a produção da digressão era excepcional; "Todas as 18 canções do repertório foram bem coreografadas, e até a iluminação, encenação e os figurinos estavam incríveis".[60] Já o periódico The New York Times fez uma revisão mista, apontando o uso do playback e afirmando que cantora "preferia dublar do que arriscar a errar uma nota. O que tornava o show entediante".[61] Três anos depois, o mesmo veículo afirmou que, com a turnê, Madonna se tornou o símbolo sexual não convencional do pop, descrevendo sua abordagem como "orgulhosamente insinuante".[62] Uma matéria do El País, escrita por Luis Hidalgo, comentou que a "principal incógnita é se Madonna está cantando ao vivo integralmente ou não [...] A falta de sinais de esforços vocais reforçam a suspeita, embora seja fortemente negada pela organização".[35] Sobre o ato Dick Tracy, a autora britânica Lucy O'Brien, descreveu-o como a "parte menos dinâmica do show".[63] Além disso, a Blond Ambition World Tour venceu o troféu de "Produção Mais Criativa de Cenário" no Pollstar Awards em 1990, e também recebeu uma nomeação a categoria de "Maior Turnê do Ano".[64] Recepção comercialCom a turnê, Madonna apresentou-se para cerca de 800 mil espectadores, e arrecadou inicialmente US$ 19 milhões.[65] Os três primeiros concertos no Chiba Marine Stadium atraíram, cada um, 35 mil pessoas. Arrecadando US$ 4,5 milhões.[66] No Japão, os ingressos para os noves shows se esgotaram em poucos dias após serem disponibilizados, gerando US$ 37 milhões.[67] Na América do Norte, a pré-venda dos ingressos gerou US$ 14 milhões em apenas duas horas, com 482,832 entradas vendidas.[68] As primeiras quatro datas na região arrecadaram entorno de US$ 1,5 milhão.[69] Em Los Angeles, a turnê quebrou recordes no Memorial Sports Arena ao vender todos os tickets dos três primeiros concertos em 45 minutos e lucrar US$ 456,720.[70] Tornando-se o evento musical de maior bilheteria da arena.[71] Os lucros do último show realizado em East Rutherford, estimado em US$ 300 mil, foram doados à organização sem fins lucrativos amfAR; além da cantora dedicar o espetáculo ao seu amigo, Keith Haring, que morreu por complicações do vírus da AIDS.[3] A turnê também foi bem-sucedida na Europa, com 30 mil espectadores no único concerto em Roma.[72] Na Espanha, os ingressos começaram a ser vendidos em 11 de junho de 1990, custando entre 1,200 e 4,000 de pesetas.[73][74] O espetáculo em Madrid atraiu 50 mil pessoas, enquanto em Vigo foram vendidos 23 mil dos 40 mil ingressos disponíveis.[75][74] Além disso, o concerto em Gotemburgo teve um público recorde de 55 mil espectadores.[76] Após a conclusão, foi divulgado que a Blond Ambition World Tour arrecadou um total de US$ 62,7 milhões em 57 concertos.[77] A Billboard divulgou que parte dos lucros da digressão seriam doados ao Cities In Schools, organização que combate o abandono escolar.[78] Madonna foi a segunda artista solo mais bem-sucedida da época, ficando atrás apenas de Michael Jackson.[79] ControvérsiasA Blond Ambition World Tour gerou controvérsia por suas representações sexuais e religiosas. Na Itália, uma associação católica pediu o boicote dos concertos em Roma e Turim, e o Papa João Paulo II aconselhou a comunidade cristã e o público em geral a não comparecer, afirmando ser "um dos espetáculos mais satânicos da história da humanidade".[80][81] O jornal diário da Cidade do Vaticano, L'Osservatore Romano, referiu-se às apresentações como "pecaminosas" e "blasfemas"; enquanto a associação conservadora Famiglia Domani descreveu a turnê como "deplorável" e criticou o erotismo constante.[82][3][83][84] Madonna defendeu a si mesma e sua turnê em uma coletiva de imprensa no Aeroporto Leonardo da Vinci-Fiumicino em Roma, declarando: "Sou ítalo-americana, e com muito orgulho... A turnê não ofende ninguém; é destinada a mentes abertas e apresenta uma nova perspectiva sobre a sexualidade. E, como no teatro, debate, incita ideias e conduz a uma jornada emocional, retratando o bem e o mal, luz e escuridão, alegria e tristeza, redenção e salvação".[85][3] Contudo, os protestos surtiram efeito, resultando no cancelamento de um segundo concerto no Stadio Flaminio por causa da baixa venda de ingressos e da ameaça de greve geral dos sindicatos.[72] O periódico romano Il Messaggero minimizou a controvérsia com uma análise mista, destacando na manchete que foi "muito barulho por nada".[86] Em Toronto, a turnê enfrentou problemas devido ao seu conteúdo explícito. No primeiro concerto no SkyDome, em 27 de maio, a polícia local ameaçou prender a cantora por "encenação obscena e indecente", especialmente pela simulação de masturbação durante a apresentação de "Like a Virgin".[87][88] Segundo a Rolling Stone, nenhuma denúncia foi feita após o gerente da turnê declarar aos policiais: "Cancele o espetáculo e terá que explicar o motivo a 30 mil pessoas".[89] O show continuou como planejado, e Madonna iniciou perguntando ao público: "Vocês acreditam na expressão artística e na liberdade de expressão?". Depois, declarou que estava disposta a ser presa a fim de defender a liberdade de "se expressar como artista".[90][91] Frank Bergen, policial à época, comentou que as denúncias foram feitas por oficial aposentado e um advogado de "cargo influente". Também discordou da representação da polícia como "verdadeiros idiotas" no documentário Madonna: Truth or Dare, afirmando que os profissionais não estavam agindo daquela maneira.[92] Kevin Stea, um dos dançarinos, disse que a equipe da turnê estava disposta a ser presa, recordando o acontecimento como "marcante".[92] Gravações e transmissõesO último concerto da turnê realizado em Nice, na França, foi gravado e transmitido na HBO sob o título de Live! Madonna: Blond Ambition World Tour 90. Os direitos do especial foram adquiridos por US$ 1 milhão, e divulgado como "a maior popstar da América em uma apresentação ao vivo via satélite de um dos maiores eventos da música pop do verão".[93][94] Segundo o Chicago Tribune, o canal queria se diferenciar do concorrente Showtime e optou por não fazer um especial pay-per-view.[94] A transmissão foi assistida por 4,5 milhões de espectadores, na época foi a atração de maior audiência da HBO.[1][95] Ao ser televisionado, o especial foi considerado excessivamente sensual e, durante o concerto, Madonna disse aos espectadores: "Sabem o que tenho a dizer aos Estados Unidos? Tenham um maldito senso de humor, certo?".[1] Posteriormente, o registro foi lançado em LaserDisc; conferindo à artista sua primeira vitória no Grammy Awards – onde recebeu o troféu de "Melhor Filme Musical".[96] Um segundo registro em vídeo da turnê, intitulado Blond Ambition – Japan Tour 90, foi gravado em Yokohama e distribuído exclusivamente no Japão.[97] Além disso, a TVE gravou e transmitiu o espetáculo realizado em Barcelona em 30 países através do seu sinal internacional.[75] O L'Osservatore Romano considerou que a exibição foi uma transgressão do "bom senso, bom gosto e decência".[98] Na Inglaterra, a BBC Radio 1 emitiu o show que ocorreu no Wembley Stadium e gerou polêmica devido aos palavrões que Madonna disse ao vivo.[99] Um documentário que apresenta os bastidores da turnê, Madonna: Truth or Dare, foi dirigido por Alek Keshishian e lançado nos cinemas em 10 de maio de 1991, arrecadando mais de US$ 15 milhões.[16][100] A cantora conversou com Keshishian sobre um especial sobre a turnê a ser exibido na HBO. O mesmo, notou que o ambiente nos bastidores lembravam "uma família disfuncional das películas de Fellini" e convenceu Madonna a fazer um filme sobre isso, incluindo algumas apresentações musicais.[101] A obra recebeu análises geralmente positivas da mídia especializada; Peter Travers, da Rolling Stone, escreveu que "talvez você não goste de Madonna em Truth or Dare, mas vai admirá-la como uma força da natureza".[102] Esteve no topo da lista do The Guardian dos 20 melhores documentários musicais.[103] No entanto, Madonna foi indicada ao Framboesa de Ouro de Pior Atriz.[104] O documentário foi distribuído em home video pela Live Entertainment em 9 de outubro de 1991.[105] Outro registro, intitulado Strike a Pose, sobre a vida dos dançarinos após o término da turnê estreou no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2016.[106] Legado
– Mark Elliott, do portal UDiscoverMusic, sobre a turnê.[107] A Blond Ambition se destacou por seus figurinos e teatralidade, algo incomum para as turnês daquela época.[55][108] Drew Mackie, da People, afirmou que "a Blond Ambition alterou o cenário da cultura pop". O show, dividido em cinco segmentos temáticos, foi de acordo com o autor "uma concepção brilhante para aquele período".[3] Lucy O'Brien notou que a cantora havia explorado as formas do teatro musical na Who's That Girl World Tour (1987), mas foi na Blond Ambition que "a arte, o espetáculo e a dança realmente se uniram pela primeira vez".[29] Courtney E. Smith, em seu livro Record Collecting for Girls: Unleashing Your Inner Music Nerd, One Album at a Time, destaca que "[a turnê] mudou as expectativas do público em concertos pop. Sendo reconhecida até mesmo por quem não esteve presente".[109] O coreógrafo Vincent Paterson recordou que Madonna "desejava desafiar todos os tabus, explorando tópicos como sexualidade e religião".[16] Luis Camacho expressou que a cantora buscava elevar o espetáculo a um "nível teatral", integrando arte e proporcionando ao público uma experiência completa.[110] Scott Anderson concluiu que a Blond Ambition Tour "alterou o modo como os artistas se apresentavam em estádios e arenas".[55] De acordo com Christopher Rosa, do VH1, a turnê "consolidou o nível de Madonna como uma artista inovadora e extraordinária".[111] Em publicação ao The Advocate, Gina Vivinetto assegurou que a Blond Ambition foi a melhor turnê de Madonna, destacando que, até então, não se tinha noção do potencial de um concerto ao vivo.[112] Na publicação dos 35 melhores concertos dos últimos anos, da revista Spin, classificou-se em quinto lugar.[113] A turnê ainda foi incluída entre os "50 Maiores Concertos dos Últimos 50 Anos" da Rolling Stone.[13] De maneira similar, figurou na lista dos "10 Melhores Espetáculos da História" da revista Q, com a redatora Sylvia Patterson comentando que "em 1990, Madonna não era apenas a mulher mais famosa do mundo, como também a maior artista pop. Sua terceira grande turnê, foi pioneira ao ter uma narrativa e cenários bem idealizados".[114] A mesma nota foi dada por Jon O'Brien, da Billboard, notando que após a Blond Ambition o público passou a exigir mais do que apenas ouvir os sucessos de seus ídolos pop.[115] Em 2022, Alim Kheraj do The Guardian, destacou que os números coreografados, a narrativa e os figurinos redefiniram os concertos pop contemporâneos, nomeando-a como umas das 50 digressões que mudaram a música.[116] Os autores de The Madonna Connection: Representational Politics, Subcultural Identities, And Cultural Theory, Ramona Liera Schwichtenberg, Deidre Pribram, Dave Tetzlaff e Ron Scott, escreveram que com a Blond Ambition, Madonna "desafiou os tabus sexuais dominantes".[117] Na publicação ao New Musical Express, El Hunt citou o impacto da digressão nos visuais de "S&M" de Rihanna, e "Side to Side" de Ariana Grande.[110] Enquanto, o videoclipe de "Alejandro" de Lady Gaga, foi descrito como uma "carta de amor visual" a Madonna e a excursão.[118] A Let's Get to It Tour (1991) de Kylie Minogue, foi criticada por suas semelhanças com a Blond Ambition, sendo considerada uma "paródia".[119] Outros críticos notaram a influência de tal na Dangerous World Tour (1992–93) de Michael Jackson, e em apresentações ao vivo de artistas como Pink, Beyoncé, Lady Gaga, Katy Perry, Miley Cyrus, Marilyn Manson, Nicki Minaj e Justin Bieber.[115][120][121] A equipe criativa de Avatar (2009), inspirada pela colocação do microfone de Madonna, colocaram câmeras próximas ao rosto dos atores para capturar com precisão seus movimentos faciais.[122] A turnê também teve impacto significativo na moda. No livro Fashion Details: 1,000 Ideas from Neckline to Waistline, Pockets to Pleats, Macarena San Martin descreveu o espartilho desenhado por Gaultier como "um símbolo emblemático da moda no início dos anos 90".[123] Gregory DelliCarpini Jr. da Billboard, afirmou que o espartilho redefiniu a figura feminina e inspirou muitos estilistas a inovarem na criação de trajes íntimos.[124] Enquanto, o The Daily Beast destaca a genialidade de tal de subverter a feminilidade convencional.[125] A jornalista Nina Terrero admitiu que a cantora "marcou a indústria da moda" ao usar o figurino na turnê.[126] O curador Harold Koda nota que, ao usar o corset, Madonna demostrava que controlar a própria imagem talvez modificasse as relações comportamentais entre o homem voyeurista e a objetificação sexual da mulher.[127] Para Adam Geczy e Vicki Karaminas, a artista "se reinventou diversas vezes em uma única década", complementando que "antes dela, apenas Bowie havia se reinventado".[128] O corpete também foi recriado para a MDNA Tour e Gaultier explicou que: "É uma homenagem em três dimensões do sutiã de cone da Blond Ambition, agora em couro metálico no interior e couro envernizado no exterior".[129] Tal inspirou artistas contemporâneas como Lady Gaga, Katy Perry e Rihanna a recriarem o traje.[125] Além disso, o rabo de cavalo usado pela cantora durante a turnê tornou-se tendência entre os fãs, com mulheres e homens aparecendo nos concertos com penteados semelhantes.[130] Posteriormente, tanto o espartilho quanto o rabo de cavalo foram considerados por veículos midiáticos como alguns dos "visuais mais icônicos de Madonna";[131][132][133][134][135] sendo ainda referenciado no filme Hocus Pocus (1993), pela atriz Stephanie Faracy,[126] e por Madonna na The Celebration Tour (2023–24).[136] Mark Beaumont destacou que "o principal tabu que Madonna 'quebrou' com a digressão foi empoderar sua sexualidade".[120] RepertórioEste é o repertório do concerto ocorrido em 5 de agosto de 1990 em Nice, França.[137][138] Bloco I: Metropolis
Bloco II: Religious
Bloco III: Dick Tracy
Bloco IV: Art Deco
Bloco V: Bis
Datas
Cancelamentos
CréditosO processo de elaboração da turnê atribuem os seguintes créditos pessoais:[25]
NotasReferências
Bibliografia
Ligações externas
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