Robert Mugabe tornou-se primeiro ministro do Zimbábue em 1980, quando seu partido ZANU-PF ganhou as eleições após o fim do domínio da minoria branca; ele tem sido o presidente do país desde 1987 em uma ditadura de partido único. Sob o regime autoritário de Mugabe, o aparelho de segurança do estado dominou o país e foi responsável por violações generalizadas dos direitos humanos.[12] Na década de 1990, a situação económica deteriorou-se significativamente sob o peso das sanções internacionais, levando o regime a aceitar uma política de "reajustamento estrutural" defendida pelas instituições financeiras internacionais.[13] Mugabe manteve a retórica socialista revolucionária da era da Guerra Fria, culpando os problemas econômicos do Zimbábue nos países capitalistas.[14] O país tem estado em declínio econômico desde a década de 1990, experimentando várias crises e hiperinflação ao longo do caminho.[15] O país é regularmente atingido por secas e inundações devastadoras.[16]
Em 15 de novembro de 2017, após mais de um ano de protestos contra seu governo, bem como a economia em declínio rápido de Zimbábue, Mugabe foi preso pelo exército nacional do país em um golpe de estado.[17] Em 19 de novembro de 2017, o ZANU-PF demitiu Robert Mugabe como líder do partido e nomeou o ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa em seu lugar.[18] Robert Mugabe acabaria por demitir-se na tarde de 21 de novembro de 2017, pressionado pelas manifestações populares, pelos militares e pela comunidade internacional.
Etimologia
O nome "Zimbábue" deriva de um termo da língua xona primeiramente empregado para denominar o Grande Zimbábue, um complexo de amuralhados de pedra situados na região leste do país. Duas teorias diferentes abordam a origem da palavra. A mais comumente aceita sustenta que "Zimbábue" deriva de dzimba-dza-mabwe, traduzido do dialeto caranga do xona como "casas de pedras" (dzimba = plural de imba, "casa"; mabwe = plural de ibwe, "pedra").[19][20][21] Os xonas de dialeto caranga vivem ao redor do sítio arqueológico do Grande Zimbábue, na atual província de Masvingo. Já o arqueólogo Peter Garlake afirma que "Zimbábue" representa uma forma adaptada de dzimba-hwe, que significa "casas veneradas" no dialeto zezuru do xona, fazendo referência às casas ou túmulos dos chefes tribais.[22]
O Zimbábue era anteriormente conhecido como Rodésia do Sul (1898), Rodésia (1965) e Zimbábue-Rodésia (1979). O primeiro uso moderno registrado de "Zimbábue", como termo de referência nacional, data de 1960, como uma proposta do nacionalista negro Michael Mawema,[23] cujo Partido Nacional do Zimbábue se tornou o primeiro a usar oficialmente o nome em 1961.[24] O termo "Rodésia" — derivado do sobrenome de Cecil Rhodes, o principal instigador da colonização britânica do território — foi considerado pelos nacionalistas africanos como inadequado devido à sua origem e conotações coloniais.[23]
Segundo Mawema, os nacionalistas negros realizaram uma reunião em 1960 para escolher um nome alternativo para o país, propondo nomes como "Matixobana" e "Monomotapa" antes que a sua sugestão, "Zimbábue", prevalecesse.[25] Inicialmente não estava claro como o termo escolhido seria usado — uma carta escrita por Mawema em 1961 refere-se a "Zimbabuelândia" —,[24] mas "Zimbábue" prevaleceu em 1962 para se tornar o termo geralmente preferido do movimento negro nacionalista.[23] Tal como muitos países africanos que conquistaram a independência durante a Guerra Fria, o Zimbábue é um nome etnicamente neutro.[26]
Os registos arqueológicos datam de 500.000 anos os fragmentos da Idade da Pedra encontrados no atual Zimbábue.[27] Os primeiros habitantes conhecidos do Zimbábue foram provavelmente o povo coissã, que deixou um legado de pontas de flechas e pinturas rupestres.[28] Aproximadamente 2.000 anos atrás os primeiros agricultores de língua banta chegaram durante a expansão banta.[29][30]
Período pré-colonial
As sociedades proto-xona surgiram pela primeira vez no meio do vale do Limpopo no século IX antes de se mudar para o planalto do Zimbábue. O planalto zimbabuense acabou se tornando o centro dos estados xonas subsequentes, começando no século X. Nas cercanias do início do século X, o comércio se desenvolveu com comerciantes árabes na costa do Oceano Índico, ajudando a desenvolver o Reino de Mapungubue no século XI. Este foi o precursor das civilizações xonas mais impressionantes que dominariam a região durante os séculos XIII a XV. O Mapungubue foi substituído pelo Reino do Zimbábue, que existiu de aproximadamente 1200 até 1450.[27] Este reino ainda mais refinado e expandido, desenvolveu uma impressionante arquitetura de pedra evidenciada pelas ruínas no Grande Zimbábue, sua capital, localizada perto de Masvingo, além de inúmeras outras localidades menores.[27] Essas ruínas fazem parte de um dos principais sítios arqueológicos da parte sul da África e possui uma arquitetura de pedra seca única.[27]
O Reino do Zimbábue foi o primeiro de uma série de estados comerciais sofisticados desenvolvidos no Zimbábue na época dos primeiros exploradores europeus, vindos de Portugal. Eles trocavam ouro, marfim e cobre por pano e vidro.[31]
O reino do Zimbábue foi substituído inicialmente pelo Reino de Butua, com sua notável capital Cami, e depois pelo Império Monomotapa. Este último dominou fortemente a região de 1430 até cerca de 1760.[27] O Império Monomotapa, governado pelos xonas, dominou grande parte da área conhecida como Zimbábue hoje, e partes do centro de Moçambique.[27] É conhecido por muitos nomes, incluindo "Reino Mutapa", também conhecido como "Mwenemutapa", "Muenemutapa", ou ainda "Monomatapa". Sua economia sustentava-se na exploração das rotas comerciais estratégicas com os árabes e portugueses.[27] Os portugueses procuraram monopolizar essa influência e iniciaram uma série de guerras que deixaram o império em quase colapso no início do século XVII.[27]
Como resposta direta ao aumento da presença europeia no interior, emergiu um novo estado xona, conhecido como o Império Rozui.[32][27] Confiando em séculos de desenvolvimento militar, político e religioso, os Rozui (que significa "destruidores") expulsaram os portugueses do planalto do Zimbábue pela força das armas.[27]
Século XIX: migrações e início da colonização
Por volta de 1821, o general Mzilikazi do clã cumalo dos zulus se rebelou com sucesso contra o rei Shaka Zulu, do Reino Zulu, e criou sua própria tribo, que depois se tornaria o povo andebele setentrional.[27] Os andebeles setentrionais lutaram com todos os povos que encontraram em sua migração para o norte, em direção ao Transvaal, deixando uma trilha de destruição pelo caminho e começando uma era de devastação generalizada conhecida como Mfecane. Quando os trekboers neerlandeses convergiram para o Transvaal em 1836, forçaram a migração dos andebeles setentrionais ainda mais para o norte. Em 1838, o Império Rozui, juntamente com os outros estados xona menores, foram conquistados pelo povo andebele setentrional.[33]
Depois de perder suas terras sul-africanas remanescentes em 1840, Mzilikazi e os andebeles setentrionais permanentemente se estabeleceram no sudoeste do atual Zimbábue, no que se tornou conhecido como Matabelelândia,[27] estabelecendo Bulavaio como sua capital (muito próximo da antiga capital Cami do Reino de Butua), e formando o Reino Mutuacazi (também chamado de Reino Matabele ou Reino Andebele-Mthwakazi). O rei Mzilikazi então organizou sua sociedade em um sistema militar com regimentos de craals (vilas e fortificações militares cercadas com paliçadas), semelhantes às do Reino Zulu, estruturas estáveis o suficiente para repelir novas incursões dos bôeres.[27] Mzilikazi morreu em 1868 e, após uma violenta luta de poder, foi sucedido por seu filho Lobengula.[27]
No final do século XIX, os britânicos, dirigidos por Cecil Rhodes, começaram a colonizar a região através da Companhia Britânica da África do Sul com o objetivo de realizar exploração mineral.[27] Em 1888, Rhodes obteve uma concessão de direitos mineiros do rei Lobengula do Reino Mutuacazi.[27] Ele apresentou esta concessão para persuadir o governo do Reino Unido a conceder uma carta real à empresa sobre a região da Matabelelândia,[27] e também os estados súditos do Reino Mutuacazi, como a Maxonalândia.[27] Rhodes usou este documento em 1890 para justificar o envio da Coluna Pioneira, uma milícia de europeus que tinham como retaguarda a fortemente equipada Polícia Britânica da África do Sul (BSAP), através da Matabelelândia e do território xona, para estabelecer Forte Salisbúria (atual Harare), marcando assim o domínio da empresa sobre a área.[27] Em 1893 e 1894, com a ajuda de suas novas metralhadoras Maxim, a BSAP derrotaria o Reino Mutuacazi na Primeira Guerra de Matabele.[27] Rhodes também solicitou permissão para negociar concessões semelhantes cobrindo todo o território entre o rio Limpopo e o Lago Tanganica.[27] De acordo com os termos das concessões e tratados acima mencionados, a colonização em massa foi encorajada, com os britânicos mantendo o controle sobre as rotas de transporte[27] e a exploração da mão-de obra dos povos negros, bem como sobre metais preciosos e outros recursos minerais.[27]
Em 1895, a Companhia Britânica da África do Sul adotou o nome "Rodésia" para o território, em homenagem a Rhodes.[27] Em 1898, "Rodésia do Sul" tornou-se o nome oficial da região ao sul do rio Zambeze, que mais tarde adotou o nome "Zimbábue". A região ao norte, administrada separadamente, foi mais tarde denominada Rodésia do Norte (atual Zâmbia). Pouco depois da desastrosa operação militar designada de "ataque de Jameson" ao Transvaal,[27] patrocinado por Rhodes,[27] os matabeles/andebeles setentrionais rebelaram-se contra o domínio branco liderados por Umlimo (ou Mlimo), seu carismático líder religioso.[27] A Segunda Guerra de Matabele, de 1896–1897, foi mantida na Matabelelândia até o assassinato de Umlimo pelo batedor estadunidense Frederick Russell Burnham. Os xonas organizaram revoltas malsucedidas (conhecidas como Chimurengas) contra o governo da Companhia Britânica em 1897.[27] Após essas insurreições fracassadas, a administração de Rhodes subjugou os grupos matabeles/andebeles e xonas e organizou a terra com um desproporcional favorecimento aos europeus, deslocando assim muitos povos africanos.[27] A riqueza advinda da pilhagem e espoliação da terra africana atraiu muitos europeus, ficando a população branca a dominar o país.[27]
O Reino Unido anexou a Rodésia do Sul em 12 de setembro de 1923.[27] Pouco depois da anexação, em 1 de outubro de 1923, a primeira constituição da nova Colônia da Rodésia do Sul entrou em vigor.[27] Sob a nova constituição, a Rodésia do Sul tornou-se uma colônia britânica autônoma, após um referendo de 1922.[27] Os rodesianos serviram em nome do Reino Unido durante as duas Guerras Mundiais no início do século XX.[27] Proporcionalmente, a Rodésia do Sul contribuiu mais per capita para a Primeira e a Segunda Guerra Mundial do que qualquer outra parte do Império Britânico, incluindo a Grã-Bretanha.[27] A riqueza era proveniente de um sistema de restrição à posse das terras aos negras e a certos segmentos do país, reservando grandes áreas exclusivamente para da minoria branca pela Lei de Distribuição de Terras de 1930.[34] Este ato, que levou ao rápido aumento da desigualdade, tornou-se objeto de apelos frequentes dos povos africanos por uma reforma agrária, pois transformou a realidade zimbabuena num caso muito similar ao apartheid sul-africano.[34]
Em 1953, mesmo com a oposição dos povos negros,[27] o Reino Unido criou a Federação da Rodésia e Niassalândia, composta pela Rodésia do Norte (atual Zâmbia), Rodésia do Sul (atual Zimbábue) e a Niassalândia (atual Maláui)[27] — entidade administrativa que ficou essencialmente dominada pela minoria branca da Rodésia do Sul.[27] Em 1964, o Reino Unido concedeu a independência à Rodésia do Norte, com o nome de Zâmbia.[27] Mas a Rodésia do Sul se recusou a aceitar iguais condições, em repúdio à política britânica adotada de "nenhuma independência antes do governo majoritário".[27] Ao contrário da Zâmbia e do Maláui, a introdução da democracia multirracial não foi possível pelo obstáculo político, econômico e militar imposto pelos rodesianos do sul de ascendência europeia, que pretendiam continuar a desfrutar do governo minoritário que lhe concedia amplos privilégios em detrimento da esmagadora maioria da população negra.[27]
Independência, segregação racial e guerra civil
Em outubro de 1964, o governo da Frente Rodesiana, liderada por Ian Smith, abandonou a designação "Sul" (depois que a Rodésia do Norte mudou seu nome para Zâmbia, a palavra Sul no nome da colónia tornou-se desnecessária e o país ficou conhecido simplesmente como "Rodésia").[27] Com a intenção de confrontar a política britânica de reconhecimento somente de governo majoritário, Smith emitiu a Declaração Unilateral de Independência da Rodésia em 11 de novembro de 1965,[27] e promulgou uma nova constituição através da qual o país adotava oficialmente o nome de Rodésia, com uma monarquia parlamentarista como forma de governo.[27] Isto marcou o primeiro ato desse tipo tomado por uma colônia britânica rebelde desde então.[27] O Reino Unido considerou a declaração rodesiana um ato de rebelião, mas não restabeleceu o controle pela força.[27] O governo britânico solicitou à Organização das Nações Unidas (ONU) sanções contra a Rodésia, enquanto se aguardavam negociações com a administração de Smith entre 1966 e 1968, que se mostrariam malsucedidas.[27] Em dezembro de 1966, a ONU atendeu as solicitações,[27] impondo o primeiro embargo comercial obrigatório a um Estado autônomo.[27] Essas sanções foram ampliadas em 1968.[27]
Em 1969, uma minoria branca votou em um referendo a favor da república como forma de governo, a qual só foi declarada no ano seguinte (constituíndo a República da Rodésia), embora não tenha sido reconhecida nem pelo Reino Unido nem pela ONU.[27] O mesmo referendo institucionalizou o poder político nas mãos da minoria branca.[27]
Após a enorme pressão da guerra civil e do isolamento internacional, em março de 1978 Smith chegou a um acordo com os líderes nacionalistas Joshua Nkomo (ZAPU), Robert Mugabe (ZANU) e Abel Muzorewa (líder do partido moderado Conselho Nacional Africano Unido-UANC).[27] Em abril de 1979 a maioria negra pôde votar e ser votada pela primeira vez em eleições parlamentares, sendo eleito Primeiro-Ministro o bispo Abel Muzorewa, líder o partido UANC (ganhador de 51 de 100 assentos), sendo eleito também Josiah Zion Gumede como Presidente.[27] Muzorewa renomeou o país para Zimbábue-Rodésia.[27] No entanto, a exclusão da participação eleitoral da ZAPU e da ZANU (que haviam costurado a Frente Patriótica (PF) um ano antes) enfraqueceu a posição de Muzorewa nacionalmente e no exterior, fator que o obrigou a concordar, em dezembro de 1979, no Acordo de Lancaster House, que estabeleceu um governo de transição até a realização de eleições no ano seguinte.[27] A partir daí, o Reino Unido e a ONU reconheceram a independência do Zimbábue, que já havia sido declarada quinze anos antes.[27]
Nas eleições gerais realizadas no Zimbábue entre 14 de fevereiro e 4 de março de 1980, para eleger os membros da Assembleia Nacional, o primeiro parlamento multiétnico e independente, a União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica (ZANU-PF) ganhou 57 assentos parlamentares, enquanto a ZAPU conquistou 20 assentos e a UANC somente 3.[27] O resultado foi uma vitória da ZANU-PF, dando-lhe a maioria parlamentar num universo de 100 assentos.[27] Além da lista comum, o Acordo de Lancaster House previa que 20 dos 100 assentos seriam preenchidos numa "lista branca", onde a Frente Rodesiana, de Smith, ganhou todas as 20 cadeiras, concorrendo praticamente sem oposição. Os membros eleitos pela lista branca, majoritariamente europeus, tiveram pouca influência no Zimbábue independente.[27]
Década de 1980 - presente: crises
O novo governo do Zimbábue, soberano e multiétnico, e eleito diretamente, iniciou-se em 18 de abril de 1980 com Canaan Sodindo Banana na Presidência e Robert Mugabe como Primeiro-Ministro.[13][27] O novo governo de Mugabe agiu fortemente para corrigir as desigualdades de raça e classe, com redistribuição de terras detidas pela minoria branca e promoção do desenvolvimento econômico.[27] Porém, durante a década de 1980, a seca e a emigração branca prejudicaram gravemente a economia, que já estava sob pressão pela necessidade de enormes gastos governamentais nas áreas há muito negligenciadas da educação, saúde e serviços sociais para a maioria negra.[27] Em 1992, um estudo do Banco Mundial indicou que mais de 500 centros de saúde tinham sido construídos desde 1980. A percentagem de crianças vacinadas aumentou de 25% em 1980 para 67% em 1988 e a esperança de vida aumentou de 55 para 59 anos. As matrículas aumentaram em 232% um ano após o ensino primário ter sido gratuito e as matrículas no ensino secundário terem aumentado em 33% em dois anos.[35]
Em 1982, Mugabe acusou Nkomo de estar a planejar um golpe de Estado e demitiu-o do seu gabinete, ao mesmo tempo que prendeu outros líderes da ZAPU.[27] Depois disso, a oposição passou a alegar que o governo de Mugabe possuía uma tendência de favorecimento desproporcional à maioria étnica dos xonas.[27] Uma agitação popular irrompeu imediatamente entre os matabeles, na zona da Matabelelândia, que levou ao que ficou conhecido como Gukurahundi. A repressão estatal, promovida por Mugabe, enviou tropas militares de elite para a Matabelelândia.[27] As forças militares massacraram milhares de civis acusados de apoiar "dissidentes".[27] A campanha Gukurahundi, ocorrida entre 1983 e 1987, gerou uma acusação de genocídio contra o governo, que incluía também denúncia de torturas em campos de internamento militares. A campanha somente terminou depois que Joshua Nkomo e Robert Mugabe chegaram a um acordo de unidade que fundiu seus respectivos partidos, com a ZAPU sendo absorvida pela ZANU-PF.[27] Outra consequência do Gukurahundi foi a demissão de Canaan Banana em 2 de dezembro de 1987, com Robert Mugabe, nomeado como Presidente, concentrando enormes poderes, sendo extinto o cargo de Primeiro-Ministro.[27]
As eleições de março de 1990 resultaram em outra vitória de Mugabe e do partido ZANU-PF, que reivindicou 117 dos 120 assentos disputados.[27] Em 1991, a ZANU-PF oficialmente abandonou seus ideais socialistas,[27] mas promoveu um reforma agrária que serviu para estatizar grandes latifúndios dos brancos.[27] A forma como foi feita a expropriação foi considerada controversa, devido à violência empregada para desocupar tais terras.[27] Diferentes organizações internacionais, grupos independentes de direitos humanos e o partido político maior de oposição, o Movimento para a Mudança Democrática, reclamaram sobre a falta de transparência no sistema de redistribuição das terras.[27]
Nas eleições de 1996 e de 2000, a oposição alegou fraude na contagem dos votos, o que gerou reações tanto a nível interno quanto no exterior. O governo de Mugabe enfrentou uma crescente oposição, dada a inflação descontrolada[27] e a crise econômica no país.[27] O governo propalava que a pressão ocidental sobre Mugabe era o resultado do crescimento das relações econômicas com a China e a disputa desta com os Estados Unidos quanto aos recursos minerais do subsolo do país.[36] Por outro lado, a partir de 1996 e 1997, o sindicalista Morgan Tsvangirai, antigo membro da ZANU-PF, passou a mobilizar a principal central sindical do país, a Confederação de Sindicatos do Zimbábue (ZCTU), a protestar contra as políticas neoliberais de Mugabe de cercear a sindicalização, bem como por questões salariais e carestia, conseguindo realizar uma greve geral que contou com a adesão de estudantes, operários da mineração, funcionários públicos, enfermeiros e médicos.[37]
Em fevereiro de 2000, as ocupações de terras por camponeses negros e veteranos da guerra da independência aumentaram.[27] Os latifúndios remanescentes dos brancos passaram a ser alvo da política de redistribuição pelo governo.[27] No entanto, após uma forte campanha midiática, houve uma mudança no apoio público aos latifundiários,[27] assim como uma melhor organização da oposição ao governo, fatores que tornaram possível a primeira grande derrota política de Mugabe num referendo em fevereiro de 2000, onde o governo apelava a uma nova constituição que propunha prorrogar o mandato de Mugabe por 12 anos,[27] lhe dando o poder de confiscar latifúndios de brancos sem compensação.[27] Àquela altura, cerca de 4 500 latifundiários brancos[27] possuíam mais de um terço da terra arável nas áreas mais férteis,[27] na forma de grandes fazendas comerciais,[27] enquanto mais de 700 000 famílias camponesas negras dividiam o resto em "terras comunais" muito menos adequadas para o cultivo.[13] Apesar da derrota do governo e da vitória dos latifundiários,[27] foi aprovada uma lei em 2002 que permitiu a Mugabe prosseguir um programa radical de confisco dos latifúndios,[27] forçando mais de metade dos grandes proprietários de terras brancos do país a renunciar aos seus latifúndios.[27] A redistribuição das terras, porém, beneficiou indivíduos politicamente ligados à Mugabe,[27] com pouca ou nenhuma experiência agrícola,[27] e não aos camponeses sem terra.[27] A falta de critério na redistribuição promovida pelo governo contribuiu para um declínio significativo na produtividade agrícola;[27] isso, assim como a seca, levou a uma grave escassez de alimentos.[27]
Em 29 de março de 2008, o Zimbábue realizou eleições presidenciais juntamente com eleições parlamentares. Os resultados destas eleições foram retidos durante duas semanas, após as quais foi reconhecido que o Movimento para a Mudança Democrática – Tsvangirai (MDC-T), liderado por Morgan Tsvangirai, tinha ganhado a maioria dos assento na câmara baixa do parlamento.[38] Em setembro de 2008, foi celebrado um acordo de partilha de poder entre Tsvangirai e Mugabe, permitindo ao primeiro ocupar o cargo de primeiro-ministro. Devido a diferenças entre os respectivos partidos políticos, o acordo não foi totalmente implementado até 13 de fevereiro de 2009.[39] Paralelamente ao impasse político, o país sofreu com uma epidemia de cólera entre 2008 e 2009, acompanhado pelo colapso no sistema de saúde pública e uma fortíssima insegurança alimentar causada pelos altos índices de inflação.[40]
Uma nova constituição, aprovada no referendo constitucional do Zimbábue de 2013, restringiu os poderes presidenciais.[41] Mugabe foi reeleito presidente nas eleições gerais do Zimbábue de julho de 2013, mas a oposição alegou fraude e apresentou queixa aos tribunais.[42][43][44] Depois de vencer as eleições, o governo Mugabe reinstituiu o governo de partido único da ZANU-PF e extinguiu o cargo de Primeiro-Ministro.[43] A deterioração da economia e da capacidade de governação alcançou níveis insustentáveis.[45] Em julho de 2016, ocorreram protestos em todo o país devido ao colapso econômico nacional.[46][47]
No dia 15 de novembro de 2017, o Presidente Robert Mugabe foi afastado pelos militares num golpe de Estado.[48] Estes o colocam em prisão domiciliar.[48] Os militares, ao tomarem o poder, declararam que não queriam depor Mugabe e estavam a "mirar criminosos" em torno do Presidente, e que, depois de atingirem os seus objetivos, a situação "voltaria à normalidade", com todos devendo "cooperar para o bem do nosso país" e que "qualquer provocação terá uma resposta adequada".[49][50] O Primeiro Vice-Presidente, Emmerson Mnangagwa,[48] que deveria assumir o país, estava em processo de ruptura política com Mugabe e havia sido demitido do cargo 9 dias antes do golpe, refugiando-se na África do Sul em 8 de novembro de 2017 por temor de represálias.[51] Em 19 de novembro, Mugabe foi destituído da presidência do seu partido — que anunciou a abertura do processo de impeachment — e, por pressão dos militares, no dia 21 de novembro, divulgou uma carta ao Parlamento renunciando à presidência do país.[52] No dia 22 de novembro, a ZANU-PF designou Emmerson Mnangagwa para o cargo de Presidente, sendo que, até sua posse, o Segundo Vice-Presidente Phelekezela Mphoko, que se encontrava no Japão, atuaria como Presidente interino.[53] No dia 24 de novembro de 2017, Emmerson Mnangagwa tomou posse como Presidente do Zimbábue.[52]
O território é constituído por uma região planáltica coberta de savanas, sendo a altitude máxima de 2592 m no Monte Nyangani, a leste do país, próximo à fronteira com Moçambique. O solo é muito fértil, propício à agropecuária. A criação de gado bovino e a cultura do tabaco constituem a principal riqueza económica. O subsolo guarda ouro, amianto, carvão e cromo. Ficam em seu território a grande barragem de Kariba e as famosas Cataratas de Vitória (Victoria Falls).
O Zimbábue tinha, em 2022, uma população de 15,1 milhão de habitantes,[1] correspondente a uma densidade populacional de 26 habitantes por km². Povos de línguas bantas compreendem 98% da população. O maior grupo étnico são os xonas, compreendendo 70% da população em geral. Os andebeles setentrionais, descendentes dos povos zulus, são o segundo maior grupo (20% dos habitantes).[54][55]
Entre os diversos grupos minoritários no Zimbábue está uma minoria branca, que compõe menos de 1% da população. A maioria dos brancos zimbabuanos são de origem britânica, mas também há africânderes, gregos, portugueses, franco-mauricianos e neerlandeses. A população branca do país vem declinando nas últimas décadas, indo de 278 000 (4,3% dos habitantes) em 1975[56] para apenas 120 000 em 1999 e em 2002 era de apenas 50 000 ou menos. Segundo o censo de 2012, o total de brancos era de 28 782 pessoas (aproximadamente 0,22% da população), um-décimo do que era em 1975 (período que imperava o apartheid racial na Rodésia).[57] O principal motivo dessa redução populacional é a emigração, com milhares de brancos retornando aos países de origem dos seus ancestrais, principalmente o Reino Unido (cerca de 200 000 a 500 000 britânicos brancos são descendentes de rodesianos ou zimbabuanos), África do Sul, Botsuana, Zâmbia, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Coloureds (zimbabuanos miscigenados, descendentes de africanos negros e brancos europeus) são 0,5% da população e minorias asiáticas, como indianos e chineses, também são aproximadamente 0,5% dos habitantes.[58]
Aproximadamente 85% dos zimbabuanos se consideram cristãos; 62% afirmam atender algum serviço religioso com frequência.[60] A maioria dos cristãos são anglicanos, católicos, adventistas[61] e metodistas.
Assim como em outras nações africanas, o cristianismo no Zimbábue se intercala e engloba dogmas de religiões tradicionais africanas. Adoração aos ancestrais é a crença mais praticada entre não cristãos, envolvendo intercessão espiritual; cerca de 1% da população é muçulmana.[62]
O Zimbábue é uma república com um sistema de governo presidencialista. Anteriormente as funções eram repartidas entre um Presidente, que era chefe de Estado de forma mais cerimonial, e o Primeiro-Ministro, que era o chefe de governo. Esta configuração manteve-se de 1980 a 1987, quando as funções de chefe de Estado e chefe de governo foram concentradas no Presidente. A linha de sucessão passou a incluir um Primeiro Vice-Presidente e um Segundo Vice-Presidente. O sistema semipresidencialista havia sido instituído em 2008, com a investidura de um Primeiro-Ministro em 2009.[40] Este modelo foi abolido em 2013, mesmo com a sua adoção legal em uma nova constituição após um referendo no mesmo ano. Retornou, portanto, ao presidencialismo clássico. Sob as mudanças constitucionais de 2005, o parlamento foi separado em uma câmara alta, o Senado, e uma câmara baixa, a Assembleia Nacional.
Durante seus sucessivos mandatos, Robert Mugabe tentou implementar políticas que resolveram problemas do colonialismo e da segregação racial que, por por outro lado, causaram problemas no médio e longo prazo ao país.[27] Mugabe promoveu uma política radical de reforma agrária, sem os devidos investimentos em infraestrutura produtiva, tecnologia e assistência técnica, fatores que causaram queda na produtividade, fuga de capitais e hiperinflação.[27] Os investimentos em saúde, por sua vez, aumentaram drasticamente a oferta de serviços públicos, melhorando as estruturas de internação, a cobertura de vacinação e a espectativa de vida.[35] No campo da educação, o ensino nos anos iniciais e médios foi universalizado.[35] Porém, a partir da década de 1990, com o abandono da idelologia socialista,[27] cresceu a percepção geral de desgoverno e corrupção deslumbrante no círculo de poder de Mugabe, com uma incapacidade do Estado zimbabuano de financiar as suas próprias instituições.[27] Além disso, as crises econômicas esgotaram a capacidade de financiamento do Estado, redundado em ciclos de estagflação.[40]
Em março de 2008 houve eleições gerais, que Mugabe perdeu, sem que o outro candidato tivesse obtido os 50% necessários. Após prolongadas negociações supervisionadas pelos líderes da África do Sul e de Moçambique, Mugabe e Morgan Tsvangirai assinaram um acordo de partilha de poder no qual Mugabe manteve-se chefe de Estado. Em 11 de fevereiro de 2009, Tsvangirai foi empossado como chefe de governo.[40] Tal configuração foi abolida em 2013, com Mugabe reconcentrando amplos poderes.[41] Em 2017, o Primeiro Vice-Preidente de Mugabe, Emmerson Mnangagwa, foi posto em seu lugar após um golpe militar.[52] Mugabe estava no poder havia 37 anos.[52]
Política externa
O Zimbábue mantém relações com vários países ao redor do mundo e mantém relações diplomáticas estreitas com as nações vizinhas. Em 2003, o país se retirou da Comunidade de Nações, grupo do qual fazia parte tanto desde a independência do Zimbábue quanto como parte do Império Britânico.[63]
Direitos humanos
No início de abril de 2009, um vídeo filmado dentro de uma penitenciária do Zimbábue denunciou a situação precária dos presos, que vivem em condições subumanas e mostram sinais de desnutrição.[64]
A economia do país é bastante dependente da mineração. Em 2019, o país era o 3º maior produtor mundial de platina[65] e o 6º maior produtor mundial de lítio,[66] além de ter uma produção considerável de ouro.[67] Na produção de carvão, o país foi o 37º maior do mundo em 2018: 2,7 milhões de toneladas.[68] Outra base econômica do país é a exportação de tabaco, onde o país foi o 6º maior produtor mundial em 2019.[69] O país também exporta açúcar, fiapo de algodão e chá.[70]
O país apresentava, em fevereiro de 2007, uma inflação anualizada de aproximadamente 1730%. Dados governamentais de junho de 2007 apontam uma inflação de 4 500%, embora especialistas afirmem que ela já chegou a aproximadamente 100 000%. Em julho de 2008 a inflação oficial chegou a 2 200 000% ao ano, mas estatísticas extraoficiais indicam uma inflação real de 9 000 000% ao ano.[71] Em 2009, a inflação chegou aos exorbitantes níveis de 98% ao dia.
A hiperinflação destruiu a economia do país, arrasando o setor produtivo. Nos últimos anos, o Zimbábue tem diminuído sua produção agrícola. O novo governo de coalizão, formado em fevereiro de 2009, conseguiu algumas melhorias na economia, incluindo o fim da hiperinflação eliminando o uso do dólar zimbabueano e o controle de preços. Nisto, a economia registrou seu primeiro crescimento em uma década.
O sistema educacional do Zimbábue consiste em dois anos de pré-escola, sete anos de ensino fundamental e seis anos de ensino médio, além dos anos que compõem o nível superior. O ano letivo no Zimbábue vai de janeiro a dezembro, com três períodos, separados por um mês de férias, com um total de 40 semanas de aula por ano. Os exames nacionais são realizados durante o terceiro semestre em novembro, com disciplinas de nível "O" e nível "A" também oferecidas em junho.[73]
O nível superior detém sete universidades públicas (governamentais), bem como quatro universidades relacionadas à instituições religiosas, que são totalmente credenciadas internacionalmente. A Universidade do Zimbabwe, a primeira e maior universidade do país, foi construída em 1952 e está localizada no subúrbio de Harare. Ex-alunos notáveis desta instituição incluem Welshman Ncube, Peter Moyo, Chenjerai Hove e Arthur Mutambara.[73]
Os artistas são valorizados no Zimbábue e muitos conseguem viver da atividade no próprio país ao contrário do que acontece em outros países africanos, cujos artistas muitas vezes são forçados a ir para a Europa. Nas artes tradicionais são destaques as obras de cerâmica, cestaria, tecidos pintados, joias e esculturas em madeira. A música sempre foi uma parte importante da vida cultural. Algumas lendas da África são cantadas em coro com a participação do público, e eventos sociais são realizados com o acompanhamento de músicas[74] e instrumentos tradicionais como a marimba, o xilofone de madeira, e o mbira, também conhecido como o "piano de polegar" e mujejeje, outro instrumento de percussão.
No país encontra-se um dos poucos grandes edifícios antigos, feitos pelos nativos da África negra, a cidadela do Grande Zimbábue, monumento que nomeia o país.
Culinária
A sua culinária é formada basicamente pela herança da cozinha britânica combinada com pratos africanos. A refeição padrão consiste de sadza (uma espécie de mingau de milho) e nyama (pronuncia-se "nhama", e significa "carne").
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↑Silva, Alberto da Costa (2009). «15. Zimbabué». A Enxada e a Lança - A África Antes dos Portugueses. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira Participações S.A. ISBN978-85-209-3947-5
↑Nelson, Harold (1983). Zimbabwe: A Country Study. [S.l.]: The Studies. p. 1–317
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