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As Listas do Património Cultural Imaterial da Humanidade foram estabelecidas pela UNESCO para garantir a melhor protecção dos importantes patrimónios culturais intangíveis em todo o mundo e a consciência da sua importância. Através de um compêndio dos diferentes tesouros orais e imateriais da humanidade em todo o mundo, o programa tem como objectivo chamar a atenção para a importância da salvaguarda do património intangível, que foi identificado pela UNESCO como um componente essencial e um repositório de diversidade cultural e da expressão criativa.
O programa tem actualmente duas listas. A maior, Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, junta "práticas e expressões [que] ajudam a demonstrar a diversidade desse património e aumentar a consciencialização sobre a sua importância." A mais pequena, Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade com Necessidade Urgente de Salvaguarda, é composta por elementos culturais que causa preocupação às comunidades e aos países que consideram necessárias medidas urgentes para mantê-los vivos.
Em 2013, foram inscritos quatro elementos na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade com Necessidade Urgente de Salvaguarda, o que ajuda os Estados Membros a mobilizar a cooperação e a assistência internacional para assegurar a transmissão desse património, com a participação das comunidades em causa.
Levar o público a reconhecer, salvaguardar e revitalizar o património imaterial;
Avaliar e inventariar a herança cultural intangível em todo o mundo;
Incentivar os Estados a estabelecer inventários nacionais e tomarem medidas legais e administrativas relevantes;
Encorajar os portadores do conhecimento a identificar, revitalizar e salvaguardar a sua herança.
Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade
A Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade contém elementos patrimoniais culturais intangíveis que "ajudam a demonstrar a diversidade do património [cultural] e consciencializam sobre a sua importância".[2]
(Em 2010, Itália, Espanha, Grécia e Marrocos foram os primeiros a serem reconhecidos, mas a 4 de Dezembro de 2013, Portugal, Chipre e Croácia foram também reconhecidos pela UNESCO.)
As Listas de Património Cultural Imaterial foram estabelecidas em 2008, quando a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial entrou em vigor. Antes disso, um projeto conhecido como Obras-primas do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade atuou no reconhecimento do valor dos bens intangíveis, como a tradição, os espaços personalizados e culturais e os atores locais que sustentam essas formas de expressões culturais através de uma Proclamação. A identificação das Obras-primas também implica o compromisso dos Estados de promover e proteger esses tesouros, enquanto a UNESCO financia os planos para a sua conservação. Iniciou-se em 2001 e realizou-se até o ano de 2005, ocorrendo um total de três Proclamações, abrangendo 90 formas de património intangível de todo o mundo.
As 90 obras-primas anteriormente proclamadas foram incorporadas na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade como suas primeiras entradas a serem conhecidas como elementos. Os elementos subsequentes foram adicionados na sequência da avaliação das indicações apresentadas pelos governos nacionais que aderiram à Convenção da UNESCO, denominados por Estados membros, a quem cada um pode apresentar um único arquivo de candidatura, além de candidaturas multinacionais. Um painel de especialistas em património imaterial e um órgão nomeado, conhecido como o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, examina cada uma das nomeações antes de inscrever oficialmente os candidatos como elementos na Lista.
Categorias
Cada obra está classificada em pelo menos umas das seguintes categorias:
Vimbuza, uma dança de cura popular entre os tumbucas do norte do Maláui, é uma manifestação importante dos ingomas, um conjunto de práticas de cura existente em toda a Áfricabantu. Os ingomas (que significa “tambores da aflição”) têm grande profundidade histórica, e apesar de diversas tentativas para os suprimir, continuam sendo parte integrante dos sistemas de cura indígenas.
A dança mbende-Jerusarema[369] praticada pelos XiChona do Zimbabué oriental. É caracterizada por movimentos sensuais e acrobáticos das mulheres em sintonia com os homens, acompanhada por percussão, palmas, gritos e assobios. A dança dos homens inclui a imitação da toupeira (“mbende”), símbolo da fertilidade, sexualidade e da família. Após tentativas dos missionárioscristãos de banirem esta dança explicitamente sexual, o nome foi mudado para Jerusarema, uma adaptação XiChona da palavra Jerusalém.
Espaço Cultural do Yaaral e do Degal • Mali • 2005
Este espaço cultural corresponde às imensas pastagens dos fulas do delta do Níger. O yaaral e o degal são duas festas que marcam a passagem do rio (em Diafarabe e Dialloube, respectivamente) por manadas de gado que pastam durante parte do ano no Sael árido, e na restante nas planícies inundadas do rio Níger. As festas têm lugar a um Sábado, dia auspicioso na crença fula, e dão lugar a expressões culturais extremamente variadas: concursos da manada mais bem decorada; música e dança; poesia pastoral; o uso das mais belas roupas e joias; e a decoração meticulosa das residências.
Gbofe de Afounkaha: Música das Trombetas Transversais da Comunidade Tagbana • Costa do Marfim • 2001
Entre o povo tagbana, gbofe designa um tipo de trombeta transversal, bem como as performances que os utilizam. Estas actuações usam seis trombetas de comprimento variável, música e danças. Para além das trombetas, existe igualmente uma secção de percussão gbofe que é usada em diversas cerimónias e rituais.
Gule Wamkulu é o nome de uma religião secreta e de uma dança ritual praticada entre o povo chewa que habita no Malawi, Moçambique e Zâmbia. É executada por membros da irmandade Nyau, uma espécie de sociedade secreta masculina. Dentro da sociedade chewa, tradicionalmente matriarcal, os maridos detêm um papel bastante acessório, e assim o Nyau oferece uma forma de contra-peso e de solidariedade entre os homens das diferentes aldeias. Os membros do Nyau são responsáveis por iniciar os jovens na idade adulta, cujo rito de passagem termina com a cerimónia do Gule Wamkulu.
O kankurang é um rito iniciático praticado na região de Casamance do Senegal e da Gâmbia. Segundo a tradição oral, o kankurang tem raízes no Komo, uma sociedade secreta de caçadores cuja organização e práticas esotéricas contribuíram para a emergência do mandinga.
Mascarada do Makishi • Zâmbia • 2005
A mascarada do Makishi é representada no final do mukanda, um rito iniciático para rapazes entre os oito e os doze anos, celebrado por comunidades dos povos luvale, chokwe, luchazi e mbunda do noroeste e oeste da Zâmbia. No início da estação seca, os rapazes deixam as suas casas para viverem entre um e três meses num acampamento no mato. Esta separação do mundo exterior marca a morte simbólica da infância. O mukanda envolve a circuncisão dos iniciados, provas de coragem e lições sobre o seu futuro papel como homens e maridos. A cada iniciado é atribuído um personagem mascarado, que estará com ele durante todo o processo. O Makishi é um desses mascarados, e representa o espírito de um antepassado falecido que regressa ao mundo dos vivos para ajudar os rapazes.
Moussem de Tan-Tan • Marrocos • 2005
O Moussem é um acontecimento económico, cultural e social que tem lugar em Tan-Tan todos os anos. Originalmente uma manifestação espontânea, tomou forma organizada em 1963. Ali se reúnem mais de trinta tribos nómadas do noroeste de África para convívio, comprar, vender e trocar todo o tipo de artigos, competições de criação de camelos e cavalos, celebrar casamentos, consultar ervanários, cantar, declamar poesia, e participar em outras tradições orais e jogos.
Sistema de Divinação Ifa na Nigéria • Nigéria • 2005
Ifá ou Orunmilá é a divindade da sabedoria e desenvolvimento intelectual dos iorubás. Ao contrário de outras formas de adivinhação da região, o sistema Ifa não depende dos poderes mediúnicos ou oraculares de uma pessoa, mas sim de um sistema de sinais interpretados pelo sacerdote Ifa. O sistema de divinação Ifa é aplicado sempre que se tenha que fazer uma decisão importante, individual ou colectiva.
Tecelagem em Casca de Árvore do Uganda • Uganda • 2005
O fabrico de roupas com casa de árvore é um saber antigo do povo baganda, do reino Buganda do sul do Uganda. O interior da casca da árvore Mutuba (Ficus natalensis) é colhido durante a estação das chuvas, e submetido a um longo processo em que é batido com diferentes tipos de marretas de madeira de forma a suavizar a sua textura e dar-lhe uma coloração uniforme de terracota. A roupa de casca, em forma de toga, é usada por homens e mulheres principalmente durante cerimónias de coroação e de cura, funerais e acontecimentos culturais, mas também é usada para fabricar cortinas, redes mosquiteiras, lençóis e sacos.
Os XiChope do sul de Inhambane são famosos pela sua música orquestral. As suas orquestras consistem num grupo de cinco a trinta xilofones de diferentes timbres chamados timbila. Os timbila são cuidadosamente fabricados e afinados, e a madeira de excelente qualidade sonora provém da árvore mwenje. A música é transmitida de mestre para mestre. Os ritmos são extremamente elaborados, sendo que muitas vezes um mesmo executante toca em simultâneo ritmos diferentes com a mão esquerda e com a direita.
Trabalhos em Madeira dos Zafimaniry • Madagáscar • 2003
Os zafimaniry são a última comunidade em Madagáscar que retém o conhecimento tradicional de trabalho com madeira. Estas tradições incluem o uso de mais de vinte espécies vegetais, cada uma com o seu uso específico, para fazer bancos, paredes, caixilhos de janelas e ferramentas, sem recorres a pregos ou a outros objectos de metal. As esculturas dos zafimaniry são decoradas segundo um estilo definido, que no entanto dá margem à expressão artística individualizada e ao simbolismo.
O Guelede é um festival anual que celebra a sabedoria das mães e das anciãs dos iorubás. O festival inclui o uso de adereço de cabeças pelos homens, disfarçando-se assim de mulheres de forma a aplacar a ira das anciãs da tribo. A dança e a música são parte integrante da cerimónia, que incorpora canto e percussão elaborados.
A tribo pigmeiaAka da África Central têm uma tradição musical que em muito difere dos seus vizinhos. É executada por todos os membros da comunidade, e caracteriza-se pela polifonia e improviso em contraponto. A música Aka faz parte de numerosos rituais relacionados com a caça, funerais e outras ocasiões, e é acompanhada por uma variedade de instrumentos, escolhidos de acordo com a cerimónia em questão.
Barranquilla é uma das cidades da Colômbia com maior diversidade cultural e comércio, já desde o século XIX. O Carnaval de Barranquilla tem lugar nos últimos quatro dias antes da Quaresma, e inclui danças como o paloteo espanhol, o congo africano e os mico y micas nativas. São executados muitos estilos colombianos de música, principalmente a cúmbia.
Oruro foi um local cerimonial na era pré-colombiana, e foi refundado pelos espanhóis em 1606. Foi o local do festival Ito, banido pelos espanhóis no século XVII, mas continuado sob a fachada de celebração cristã: os antigos deuses andinos foram remoldados como santos. Foi associada com o Natal, e era celebrada a 2 de Fevereiro. Actualmente celebra-se antes da Quaresma e dura dez dias. O evento mais importante é a entrada, uma procissão de mais de 28 mil dançarinos e 10 mil músicos, que marcham durante vinte horas.
Complexo do Bumba-meu-boi do Maranhão • Brasil • 2019
O bumba-meu-boi é um rito cultural que faz parte das festividades juninas do Maranhão, resgatando o contexto das relações sociais e econômicas da região durante o período colonial, marcadas pela monocultura, criação extensiva de gado e escravidão, mesclando a cultura europeia, africana e indígena. envolvendo um conjunto canções, ritmos, coreografias, sátiras, figurinos e bordados. [370]
Cosmovisão Andina dos Kallawaya • Bolívia • 2003
Os Kallawaya são um povo indígena boliviano da região de Bautista Saavedra. São conhecidos pelas suas técnicas médicas tradicionais, que incluem uma série de cerimónias que formam a base da economia e cultura locais. Os médicos-sacerdotes Kallawaya, exclusivamente homens, difundem o seu conhecimento por toda a América do Sul.
Herança Oral e Manifestações Culturais do Povo Zápara • Equador e Peru • 2001
Os zápara são um dos povos mais antigos da Amazónia. A sua cultura oral inclui grande compreensão da vida natural da floresta de chuva, bem como complexas práticas mitológicas e artísticas.
La Tumba Francesa, Música da Irmandade do Oriente • Cuba • 2003
A província cubana de Oriente é afro-haitiana e é muito conhecida pela tumba francesa, uma fusão da música africana ocidental do Daomé e musica de origem francesa. Os haitianos chegaram à região no início da década de 1790 e formaram sociedades urbanas nos séculos seguintes. A tumba francesa tem um cantor líder (composé), e acompanhamento musical por catá e tambores tumba e coros femininos. As danças tradicionais masón e yubá, associadas à tumba francesa, são lideradas pelo Mayor de Plaza.
Os garifuna são um povo descendente de escravosnigerianosnaufragados na ilha de São Vicente miscigenados com nativos caribes. Mais tarde, os garifuna mudaram-se para a América Central, e são mais numerosos no Belize. A música e dança dos garifuna combina elementos africanos e indígenas; a língua é considerada do grupo arawak.
O Rabinal Achí é um drama dinástico maia do século XV – um raro exemplo das tradições pré-Hispânicas. Inclui mitos cosmogónicos e aborda assuntos populares e políticos dos habitantes da região de Rabinal, expressados através de danças mascaradas, teatro e música.
Tradições Pastorais e Carros de Bois da Costa Rica • Costa Rica • 2005
Ásia
Akyns, Contadores de Épicos Quirguizes • Quirguistão • 2003
Os akyns são contadores de épicos dos quirguizes, performances de canção e poesia de raízes ancestrais. As técnicas dos akyns são transmitidas oralmente, e incluem a trilogiaManas (Manas, Semetey e Seitek) com mais de um milénio de existência. Muitos dos épicos são semi-históricos, e são acompanhados por um alaúde de três cordas chamado komuz.
A música tradicional do Iémene data do século XIV. Deriva da poesia clássica e é parte importante das actividades sociais, rituais e cerimónias iemenitas. O cantor é acompanhado por um qanbus (alaúde) e um sahn nuhasi, um tabuleiro de cobre equilibrado nos polegares e percutido com os restantes dedos. A música corresponde a diversas melodias típicas; é no entanto ricamente embelezada através do improviso.
O pansori é uma performance que usa contadores-trovadores acompanhados por um tambor. Uma actuação pode durar mais de oito horas. Esta tradição teve origem no sudoeste da Coreia no século XVII, espalhando-se através da gente comum até alcançar a popularidade junto da população urbana sofisticada em finais do século XIX. Certos elementos narrativos do pansori datam já do período Joseon, e incluem temas como o amor, o luto e a família.
A comunidade ifugao é conhecida pelos cantos hudhud, que datam pelo menos do século VII. Há mais de duzentos cantos, cada um composto por 40 episódios; todos os versos hudhud partilham uma única melodia. O cantor principal é uma mulher, e o seu irmão tem um papel de maior destaque que o marido. Estes cantos empregam técnicas literárias complexas, como a onomatopeia, a metáfora e a metonímia.
Dança da Máscara dos Tambores de Drametse • Butão • 2005
A Ngacham (“dança da máscara”) de Drametse é uma dança religiosa e cultural executada em honra do guru budista Padmasambhava durante o Festival de Drametse. Tem lugar duas vezes no ano, nos meses quinto e décimo do calendário butanês, no Mosteiro Ogyen Tegchok Namdroel Choeling (distrito de Mongar, Butão Oriental). A dança, executada há séculos neste lugar, compõe-se de dezasseis dançarinos em traje monástico e máscaras de madeira imitando animais reais e míticos, acompanhados por uma orquestra de dez músicos dirigidos por um tocador de címbalos. A dança tem uma parte calma e contemplativa, que representa os deuses pacíficos, e uma parte rápida e atlética, em que os dançarinos simbolizam deuses irados. Com o tempo, a Ngacham passou de um evento para Drametse e aldeias vizinhas, para uma representação da identidade de toda a nação butanesa.
Épico Darangen do Povo Maranao do Lago Lanao • Filipinas • 2005
O darangen (língua maranao: “narrar em canção”) é um antigo canto épico rico em conhecimentos sobre o povo maranao, que vive na região do lago Lanao da ilha de Mindanao. Em 17 ciclos e 72 mil linhas, celebra passagens da história dos maranao e tribulações dos seus heróis míticos, explorando ainda os temas da vida e da morte, namoro, política, amor e estética através de simbologia, metáfora, ironia e sátira. O darangen também codifica leis, padrões sociais e ética, e é usado como referência pelos anciãos na aplicação da lei. É um testemunho da cultura pré-islâmica do povo maranao.
O espaço cultural dos gongos nas montanhas centrais do Vietname cobre diversas províncias, e praticamente dezassete grupos étnicos minoritários, pertencentes aos grupos linguísticos austro-asiático e austronésio. Estas populações praticam agricultura de subsistência e desenvolveram as suas próprias tradições, estilos decorativos e tipos de habitação. As suas crenças incluem o culto dos antepassados, xamanismo e animismo. Intimamente ligadas ao dia-a-dia e ao ciclo das estações, estas crenças formam um mundo místico onde os gongos intervêm como a linguagem privilegiada de comunicação entre os homens, as divindades e o sobrenatural. Por trás de cada gongo oculta-se um deus ou deusa, que é tão mais poderoso quanto mais velho seja o gongo. Cada família detém pelo menos um gongo, que indica a riqueza, autoridade e prestígio da família, assegurando a sua protecção. O gongo está presente em todos os rituais da vida comunitária como o principal instrumento cerimonial.
Espaço Cultural dos Bedu de Petra e Wadi Rum • Jordânia • 2005
Os beduínos (Bedu) são um povo pastoral semi-nómada que habita no sul da Jordânia, particularmente perto de Petra e de Wadi Rum, uma região de deserto e de planaltos semi-áridos. Estas condições têm possibilitado a co-existência de comunidades nómadas e sedentárias, que mantém um relacionamento complementar, e permitiram aos Bedu preservar conhecimentos específicos sobre a flora e a fauna da região, medicinas tradicionais, criação de camelos, fabrico de tendas, rastreio de animais e escalada, e rituais relacionados com a arte de fazer café e com a hospitalidade. Os Bedu desenvolveram um profundo conhecimento do seu ambiente, grande criatividade cultural, e um código social e moral complexo – tudo isso transmitido oralmente.
Espaço Cultural e Cultura Oral dos Semeiskie • Federação Russa • 2001
Os Semeiskie são uma comunidade de “Velhos Crentes” separados da Igreja Ortodoxa nas reformas do século XVI, residentes na região Transbaikal. Relocalizaram-se ali sob Catarina, a Grande e retiveram muitos elementos arcaicos da sua cultura, incluindo o dialecto russo do sul. Os corais Semeiskie derivam da música litúrgica russa da Idade Média, e incluem canto polifónico.
Espaço Cultural do Distrito de Boysun • Uzbequistão • 2001
Boysun é uma região do Uzbequistão, habitada desde tempos imemoriais. Há muito parte de uma encruzilhada cultural, Boysun conta com uma quantidade de religiões como o islão, budismo, zoroastrianismo, xamanismo, e rituais como o festival de Navruz na Primavera, que invoca o deus da chuva, e o rito familiar 40 dias após o nascimento da criança para afugentar espíritos malignos. São comuns os cânticos tradicionais, usando temas dos épicos nacionais, acompanhados por instrumentos de sopro e cordas.
A Hikaye palestiniana é uma forma narrativa contada por mulheres a outras mulheres ou crianças. Os contos são fictícios, mas lidam com questões reais das famílias e da sociedade árabe do Médio Oriente; assim, a Hikaye mostra um ponto de vista crítico feminino relativamente à sociedade. A maioria dos conflitos narrados nos contos descrevem mulheres divididas entre o dever e o desejo. O poder da narrativa está no uso de linguagem particular, ênfase, ritmo e inflexão vocal de forma a capturar a atenção dos ouvintes, e assim imergi-los num mundo de imaginação e fantasia.
Kabuki é uma forma de teatro japonês, conhecida pela estilização do drama e pela elaborada maquiagem usada por seus atores. O significado individual de cada ideograma é canto (ka), dança (bu) e habilidade (ki), e por isso a palavra kabuki é às vezes traduzida como “a arte de cantar e dançar”. Sua origem remonta ao início do século XVII.
O kris ou keris é um punhal assimétrico da Indonésia. Ao mesmo tempo arma e objecto espiritual, são-lhe muitas vezes atribuídos poderes mágicos. Os krises mais antigos datam de 1360, e o seu uso espalhou-se a partir dali para todo o Sudeste Asiático.
O Kutiyattam é a mais antiga tradição teatral da Índia. Tem origem sânscrita e encontra-se no estado de Kerala. É apresentado em teatros existentes dentro dos templos hindus, chamados Kuttampalams. Esta tradição tem já dois mil anos. De origem sagrada e estritamente controlada, o Kutiyattam é hoje mais acessível embora se mantenham os elementos espirituais, como a purificação dos actores e uma lamparina acesa durante toda a representação para simbolizar a presença divina. As técnicas altamente estilizadas são regidas por regras rigorosas, que até há pouco tempo estavam registadas em manuais guardados secretamente por famílias específicas.
Esta antiga forma teatral criada pelas comunidades malaias da Malásia combina actuação, música vocal e instrumental, gestos e trajes elaborados. Específico das aldeias de Kelantan no noroeste do país, onde a tradição tem origem, o Mak Yong é representado principalmente como entretenimento ou como ritual de cura.
A comunidade uigur é uma das maiores minorias étnicas da República Popular da China. A região de Xinjiang tem sido marcada ao longo dos séculos por um elevado grau de intercâmbio cultural entre Oriente e Ocidente, particularmente pela sua localização na Rota da Seda. O muqam uigur de Xinjiang é uma amálgama de canções, danças, música popular e clássica, de grande diversidade de conteúdo e estilos. As canções variam em rima e métrica, e são representadas a solo ou em grupo. As letras incluem tanto baladas populares, como poemas dos mestres clássicos uigures. Assim, as canções abrangem uma variedade de estilos, tais como poesia, provérbios, narrativa popular, e tópicos populares tais como o elogio ao amor e a contemplação da vida, e reflectem tanto a história como a vida quotidiana da sociedade uigur.
Música Guqin • China • 2003
O guqin é um instrumento semelhante a uma cítara com cerca de três mil anos de existência. As técnicas instrumentais tornaram-se parte integrante da cultura intelectual chinesa particularmente durante a Dinastia Han: os intelectuais deveriam aprender guqin, go, pintura chinesa e caligrafia. O próprio instrumento é bastante complexo: para o tocar são necessárias mais de cinquenta técnicas de dedilhação.
Música Shashmaqom • Tajiquistão e Uzbequistão • 2003
Shashmaqom é um tipo de música clássica da Ásia Central que usa uma variedade de técnicas literárias, melodias e ritmos, e estilos tanto vocais, como instrumentais. As actuações podem ser por um grupo de cantores, por apenas um indivíduo, ou por uma orquestra de instrumentos de sopro, percussão e cordas.
Música Tradicional do Morin Khuur • Mongólia • 2003
O morin khuur é uma rabeca de duas cordas que já faz parte da cultura da Mongólia pelo menos desde o império Mongol do século XIII. O instrumento é parte importante de cerimónias e é tocado segundo diversas técnicas, normalmente a solo, mas por vezes acompanhando canto longo, histórias ou danças. Algumas melodias morin khuur são usadas para domaranimais.
Nha Nhac, Música de Corte Vietnamita • Vietname • 2003
Nha nhac é uma forma clássica de música e dança vietnamita bastante diversificada, desenvolvida desde a dinastia Le (século XV) e a dinastia Nguyen (século XX). A música é tocada para celebrar feriados, funerais, coroações e cerimónias importantes. As orquestras, com grande variedade de instrumentos de percussão bem como sopros e cordas, acompanham um grande número de cantores e bailarinos, todos eles vestindo trajes elaborados.
O termo “Olonkho” designa os textos poéticos de numerosos épicos yakuts. O olonkho pertence às mais ancestrais artes épicas dos povos turco-mongóis. É representado na República de Sakha, situada no nordeste da Federação Russa. Este acervo literário diversificado (os contos variam de dimensão entre dez linhas e 50.000) é usado como forma de educação; descreve as crenças, valores e xamanismo, interpreta e explica diferentes aspectos da realidade, e consiste em numerosas lendas sobre os feitos dos booturs, os guerreiros da nação yakut.
Ópera Kunqu • China • 2001
A ópera kunqu será a mais antiga forma de ópera chinesa, do tempo da dinastia Ming (séculos XIV–XVII). Kunqu recorre a dois papéis principais, um masculino e um feminino, bem como um velho e diversos papéis cómicos. As performances incluem música e dança, e são acompanhadas por diversos instrumentos de cordas, sopro e percussão.
Ramlila: Representação Tradicional do Ramayana • Índia • 2005
Ramlila, literalmente “o teatro de Rama”, é uma performance do épico Ramayana sob a forma de uma sequência de cenas que incluem canção, narração, recital e diálogo. É representado em todo o norte da Índia durante o festival de Dussehra, que tem lugar todos os anos em Outubro ou Novembro, segundo o calendário ritual. As Ramlilas mais representativas são as de Ayodhya, Ramnagar e Benares, Vrindavan, Almora, Sattna e Madhubani.
Recitação Védica • Índia • 2003
Os Vedas (sânscrito: “o saber”) são uma antiga colecção de filosofia, mitologia e poesia sânscrita, desenvolvida há mais de 3.500 anos pelos arianos. Incluem o Rig Veda (uma colecção de hinos), o Sama Veda (acompanhamento musical), o Atharva Veda (feitiços e cerimónias) e o Yajur Veda (orações e rituais). Os versos dos Vedas são entoados de forma tradicional, e foram transmitidos principalmente de forma oral.
Rito Real Ancestral e Música Ritual no Santuário de Jongmyo • Coreia do Sul • 2001
Jongmyo é um santuárioconfucionista em Seoul, local de um rito anual executado no primeiro Domingo de Maio pelos descendentes da família real coreana. O rito tem origem chinesa, embora já tenha sido extinto na China, e inclui uma oração pelos antepassados, música e dança. A forma moderna do ritual data do século XV. Começa com a oferta de manjares e libações pelos sacerdotes, seguida de música tocada com flautas, cítaras, sinos, gongos e alaúdes, e de uma dança por 64 dançarinos que apresentam uma alternância entre Yin e Yang.
Sbek Thom, Teatro de Sombras dos Khmer • Camboja • 2005
O Sbek Thom é um teatro de sombras khmer que usa fantoches não articulados com dois metros de altura, feitos em couro. Anterior ao período angkoriano, o Sbek Thom é considerado sagrado, tal como o ballet real e o teatro de máscaras. As performances, dedicadas as divindades, tinham lugar apenas em algumas ocasiões específicas do ano, tal como o ano novo khmer, o aniversário do rei ou a veneração de pessoas famosas. O teatro de sombras foi enfraquecido após a queda de Angkor no século passado. Evoluiu no entanto de uma actividade cerimonial para uma forma de arte, embora retenha a sua dimensão ritualista.
Teatro de Marionetas Ningyo Jōruri Bunraku • Japão • 2003
Ningyo Jōruri Bunraku é uma arte de palco que engloba marionetas, canto e acompanhamento musical. Surgiu no século XV da junção do teatro Jōruri com a manipulação de fantoches. As narrativas desta forma antiga de Ningyo Jōruri Bunraku derivaram do sewamono (teatro contemporâneo) e do jidaimono (peças históricas). O teatro atingiu a sua forma actual no final do século XIX the 19th century, em que três bonecreiros manipulam enormes fantoches enquanto um músico toca o shamisen e um narrador (tayu) descreve as acções e os personagens.
O Wayang é um teatro de marionetas com origem na ilha de Java, hoje espalhado por toda a Indonésia. As marionetas podem ser feitas de madeira, ou serem silhuetas projectadas numa tela iluminada. A representação é acompanhada com instrumentos de bronze e gamelão. As tradições da narrativa Wayang têm origem não só no arquipélago indonésio, como na Índia e Pérsia.
Teatro Nōgaku • Japão • 2001
Iniciado com a importação do teatro Sangaku (Sarugaku) chinês no século VIII, o Nōgaku adquiriu a sua forma actual no século XIV e é a principal forma de teatro japonês. Existe em duas formas: o Nō com um narrador sobrenatural e actores mascarados, e o Kyōgen, cómico e mais semelhante à tradição Sangaku. O texto do Nōgaku é falado na linguagem do povo entre os séculos XII e XVI.
O urtiin duu, ou “canto longo”, é uma forma de expressão ritual que detém um lugar destacado na sociedade mongol. É executado em casamentos, na inauguração de uma nova casa, no nascimento de uma criança, na marcação dos bezerros, no naadam e em outras celebrações sociais e religiosas das comunidades nómadas da Mongólia. É um canto lírico em 32 versos com uma melodia extremamente elaborada louvando a beleza da estepe, montanhas e rios, o amor aos pais ou a amigos íntimos, expressando reflexão sobre o destino humano. Os urtiin duu encontram-se registados desde o século XIII, e pensa-se que tenham cerca de dois mil anos.
Canto A Tenore, Expressão da Cultura Pastoral da Sardenha • Itália • 2005
O canto A Tenore desenvolveu-se dentro da cultura pastoral da Sardenha. É uma forma muito específica de canto polifónicogutural executado por um grupo de quatro homens com quatro vozes diferentes: bassu, contra, boche e mesu boche. Os cantores formam um círculo de pé; o solista canta um excerto de prosa ou um poema, enquanto as outras vozes executam o acompanhamento. De forma a ouvir a sua própria voz e em simultâneo a dos outros cantores, e assim atingir perfeita harmonia, os cantores tapam um dos ouvidos com a mão.
O canto polifónico é uma antiga tradição da Geórgia, presente pelo menos desde o século IV, altura em que o Cristianismo se tornou religião oficial. Consiste em quatro tipos principais (polifonia monotónica, em contraponto, paralela e ostinato). A Suanécia, região montanhosa no noroeste, apresenta a polifonia paralela; a Geórgia ocidental tem o contraponto com yodel; a Caquécia na Geórgia oriental apresenta uma forma de canto em diálogo de solistas com um fundo de polifonia monotónica; e todas as regiões da Geórgia apresentam polifonia de tipo ostinato. Entre as tradições da Caquécia conta-se a melodia Chakrulo, perfeitamente sui generis.
Escultura de Cruzes e o seu Simbolismo na Lituânia • Lituânia, Letónia • 2001
Espaço Cultural Kihnu • Estónia • 2003
As ilhas bálticas de Manija e Kihnu albergam um pequeno grupo tradicional de habitantes. Durante muitos anos, os homens de Kihnu foram buscar modo de vida no mar e as mulheres tornaram-se guardiãs do património cultural das ilhas - o que inclui artesanato, danças, jogos e música. A música é especialmente importante nas tradições das ilhas, e acompanha o artesanato, festas religiosas, e outras cerimónias. Antigas canções ao estilo runo são também importantes, tal como as vestes tradicionais com adornos e cores vivas e brilhantes que simbolizam antigas lendas e poemas.
O fado é um género musical português de tema e forma variados mas frequentemente acompanhado por guitarra portuguesa e viola. O reportório dos fadistas explora muitos temas, tanto melancólicos como a saudade, o amor não correspondido ou ausente, os ciúmes, a nostalgia do passado, as dificuldades da vida ou o exílio, como alegres como os episódios pitorescos da vida, o amor e cenas do quotidiano, por vezes com ironia. Há dois géneros principais: o fado de Coimbra e o fado de Lisboa.
Fujara, uma flauta extremamente longa, com três orifícios para os dedos tocada por pastores eslovacos, é considerada parte integrante da cultura tradicional da Eslováquia Central.
Gigantes e Dragões Processionais da Bélgica e França • Bélgica, França • 2005
O Mistério de Elx é uma encenação teatral que recria a morte, assunção e coroação da Virgem Maria, e que tem sido levada a cena ininterruptamente na Basílica de Santa Maria de Elche desde meados do século XV. O drama é inteiramente cantado, sendo composto por dois atos em 14 e 15 de agosto. O texto é maioritariamente em língua valenciana, com alguns trechos em latim e é composto por secções solistas ao modo medieval que alteram com polifonia ao estilo barroco e renascentista.
O duduk, ou oboé arménio (também chamado tsiranapokh ou gaita do damasqueiro) é um instrumento de palheta simples ou dupla feito de madeira de alperce, com um timbre quente, suave e levemente anasalado. A cana usada para a palheta, chamada ghamish ou yegheg, é uma planta nativa que cresce nas margens do rio Arax. As raízes deste instrumento datam do reino de Tigran o Grande (95 a.C.-55 a.C.). O duduk acompanha músicas tradicionais arménias, e é tocado em eventos sociais tais como casamentos e funerais.
Opera dei Pupi, Teatro de Marionetas Siciliano • Itália • 2001
A Opera dei Pupi é um tipo de teatro de marionetas que surgiu no início do século XIX na Sicília. Nestas performances, são narrados contos de cavalaria, poemas italianos e histórias das vidas de santos e bandidos - com partes improvisadas pelos bonequeiros. As duas principais escolas da Opera dei Pupi são a da Catânia e a de Palermo, que se distinguem pelas características das marionetas e pelas técnicas de as manipular, além de diferenças no cenário. Estes métodos passaram de geração em geração muitas vezes em ambiente familiar, e hoje as marionetas são feitas por artesãos especializados.
Patum de Berga • Espanha • 2005
A Patum de Berga é uma festa religiosa popular que preservou as suas raízes pagãs, apesar de certos elementos terem sido reinterpretados pelo Catolicismo. Anteriormente consistiu num conjunto de representações teatrais e numa variedade de efígies o figuras colocadas nas ruas, e tem acompanhado as procissões do Corpo de Cristo desde a Idade Média. Actualmente, as figuras realizam uma série de danças na praça seguidas por uma multidão de pessoas, e usando o fogo profusamente. Entre as efígies contam-se turcos, cavalos, demónios, dragões, águias, anões de cabeças enormes, e gigantes; todas as figuras se reúnem na dança final, o Tirabol.[373]
Os Mevleviye são uma ordem sufi fundada em 1273 em Cônia, de onde se expandiu por todo o Império Otomano. Actualmente existem Mevleviye em comunidades turcas por todo o mundo, mas os de Cônia e Istambul são particularmente famosos. Os Mevleviye são famosos pelas suas danças rodopiantes, denominadas Sema.
Slovácko Verbuňk, a Dança dos Recrutas • República Checa • 2005
Os desenhos na areia de Vanuatu são uma forma ritual de expressão produzida por especialistas, que usam um único dedo para compor padrões geométricos complexos, e no entanto produzidos com uma única linha. Os símbolos são usados para comunicar entre os diferentes povos de Vanuatu, bem como para registar rituais, história, canções e conhecimentos. Os desenhos na areia tipicamente executam diversas funções em simultâneo, podendo ser lidos ao mesmo tempo como arte, informação, mensagens, pensamentos contemplativos e ilustraçãonarrativa.
Lakalaka, Danças e Discursos Cantados de Tonga • Tonga • 2003
A tradição lakalaka de Tonga inclui música, dança e oratória, e é executada em celebrações importantes como coroações e o aniversário da constituição. O lakalaka tem raízes numa dança local chamada me'elaufola, e atingiu a forma moderna, no século XIX. As performances de grupos de centenas de indivíduos em filas, divididos por sexos, cada qual com o seu estilo. A tradição é liderada por um poeta, compositor e coreógrafo designado punake.
↑UNESCO. Troisième Proclamation des chefs-d’oeuvre du patrimoine oral et immatériel de l’humanité. Press kit. Paris, 20-24 Nov 2005: UNESCO. Acedido em 22 Mar2007.
↑«Kumiodori». UNESCO Culture Sector. Consultado em 2 de maio de 2011
↑«Yuki-tsumugi». UNESCO Culture Sector. Consultado em 2 de maio de 2011
↑«Mibu no Hana Taue». UNESCO Culture Sector. Consultado em 15 de fevereiro de 2012
↑«Sada Shin Noh». UNESCO Culture Sector. Consultado em 15 de fevereiro de 2012
↑«Nachi no Dengaku». UNESCO Culture Sector. Consultado em 24 de abril de 2013
↑«Washoku». UNESCO Culture Sector. Consultado em 8 de dezembro de 2013
↑Until 2014, there was an item titled "Sekishu-Banshi: papermaking in the Iwami region of Shimane Prefecture." It was merged with the current item due to the expansion of the range of elements.