Um Defeito de Cor é um romance metaficcional da escritora brasileira Ana Maria Gonçalves (Ibiá – MG), publicado em 2006.
A obra figurou na sétima posição da lista dos 200 livros mais importantes para entender o Brasil, divulgado pela Folha de S.Paulo em 2022, no âmbito do projeto "200 anos, 200 livros".[1]
Em 2024, o livro ganhou nova projeção na mídia por ter sido a inspiração do samba enredo da Portela, no carnaval do Rio de Janeiro daquele ano.[2]
Enredo
O livro conta a história da vida de Kehinde, uma africana idosa que viveu no Brasil durante a maior parte do século XIX. Ele se inicia com a protagonista retornando à África, após ter sido escravizada e vivido experiências traumáticas no Brasil. Seu propósito principal é a busca de um filho, perdido há décadas. Ao longo do percurso da viagem, ela reflete sobre sua vida, desde a infância no Reino de Daomé (atual Benim), a captura, tráfico, e escravização na Bahia, e como isso resultou em inúmeras violências, a vida como adulta na Bahia, e o retorno à África como adulta, vivendo em meio a uma comunidade de ex-brasileiros no Benin e na Nigéria.
Inspiração
O romance é uma dramatização da vida de Luísa Mahin, mãe do advogado abolicionista Luis Gama. O romance descreve vários eventos históricos, inclusive a Revolta dos Malês e a Sabinada. Apesar do número de menções históricas à Luísa Mahin, ela é frequentemente tratada na história brasileira como uma figura mítica, como reportado em livros recentes que tratam da dimensão racial desse apagamento.[3]
A Lei n.º 13.816, de 24 de abril de 2019, inscreveu o nome de Luísa Mahin no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.[4]
Recepção
Desde a sua publicação, o romance foi alvo de ampla discussão na imprensa e na academia brasileiras. Ele foi escolhido pela Folha de São Paulo como um dos livros mais importantes para entender a história do Brasil.[5]
Numerosos estudos foram feitos sobre Um Defeito de Cor, analisando o romance pela forma como retrata raça, classe, gênero e a história da escravidão.[6][7][8][9][10][11][12][13]
Um Defeito de Cor na Cultural Popular
O romance Um Defeito de Cor inspirou uma mostra que abriu no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador em 2023.[14] [15][16]
Em 2024, o romance inspirou o samba-enredo da escola de Samba Portela, no Carnaval do Rio de Janeiro.[17][18]
Referências
- ↑ «Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil». Brasil de Fato. 4 maio 2022. Consultado em 2 de abril de 2024
- ↑ «Um Defeito de Cor: livro retratado pela Portela na Sapucaí é o mais vendido da Amazon». Brasil de Fato. 14 fevereiro 2024. Consultado em 1 de abril de 2024
- ↑ Gonçalves, Aline Najara da Silva (3 de junho de 2011). Luiza Mahin: uma rainha africana no Brasil. [S.l.]: Ceap
- ↑ «L13816». www.planalto.gov.br. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ «Um Defeito de Cor: livros para entender o Brasil - Ilustríssima». Folha de S.Paulo. 4 de maio de 2022. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Dal Sasso Freitas, Renata (27 de julho de 2023). «Um defeito de cor (2006) de Ana Maria Gonçalves e os limites da representação da escravidão». Revista de Teoria da História (1): 58–80. ISSN 2175-5892. doi:10.5216/rth.v26i1.73883. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Alves, Esther Maria Gonçalves (27 de junho de 2023). «Escravidão, trabalho e maternidade: a experiência de mulheres negras na obra Um defeito de cor (2006), de Ana Maria Gonçalves». Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Santos, Daiana Nascimento dos (1 de janeiro de 2016). «Historia e Memória no romance Um defeito de cor * History and Memory in the novel Um defeito de cor». Revista Izquierdas. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Prâksis, Revista. «O (DES)SILENCIAMENTO HISTÓRICO EM UM DEFEITO DE COR, DE ANA MARIA GONÇALVES». Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Bernd, Zilá (dezembro de 2012). «Em busca dos rastros perdidos da memória ancestral: um estudo de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves». Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea: 29–42. ISSN 1518-0158. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Silva, Fabiana Carneiro da (2018). «Maternidade negra em Um defeito de cor: a representação literária como disrupção do nacionalismo». Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea (54). 245 páginas. ISSN 2316-4018. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Lucas Victalino Nascimento; Lucas Victalino Nascimento; Antonio Fernandes Júnior; Raquel Costa Guimarães Nascimento (2 de setembro de 2022). Daniel L. S. Braga, ed. «DISCURSO, HISTÓRIA E RESISTÊNCIA EM "UM DEFEITO DE COR", DE ANA MARIA GONÇALVES» (PDF). Instituto Scientia: 393–407. ISBN 978-65-85047-09-8. doi:10.55232/10830012.25. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Bispo, Ella Ferreira (2023). «Perspectivas sobre Um defeito de cor». REVELL - REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS DA UEMS (36): 394–418. ISSN 2179-4456. doi:10.61389/revell.v3i36.7446. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ Paz, Dindara (7 de novembro de 2023). «Após três anos fechado, Muncab reabre em Salvador com exposição 'Um Defeito de Cor'». AlmaPreta. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ «Veja imagens da mostra que reconta o livro 'Um defeito de cor'; exposição marca reabertura do Museu da Cultura Afro-Brasileira». G1. 3 de novembro de 2023. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ «Exposição "Um Defeito de Cor" inaugura em Salvador». Museu de Arte do Rio – MAR. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ «'Um defeito de cor': conheça livro homenageado em samba-enredo da Portela». G1. 13 de fevereiro de 2024. Consultado em 2 de fevereiro de 2025
- ↑ «Portela: livro 'Um defeito de cor', que inspirou enredo, foi tema de curso com a autora na comunidade». O Globo. 13 de fevereiro de 2024. Consultado em 2 de fevereiro de 2025